segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Ordenações cuniculares


Como se teriam, livremente, organizado as coisas, neste caso as castas de uvas, desde o início dos tempos, quando agora parece ser imperioso e administrativo arrumá-las por Diário da República?
Se a Baga é retintamente bairradina, também a branca Alvarinho foi, até há bem pouco tempo, exclusivamente alto-minhota (e galega, valha a verdade). Bem como a Antão Vaz, genuinamente alentejana. Não está em causa a razão disciplinar da portaria (244/2014) do Ministério de Agricultura, o que eu acho é que o seu conteúdo é um autêntico "albergue espanhol", querendo meter o Rossio na Betesga, neste caso nas vinhas alentejanas. Nada menos de 68 castas, incluindo a Baga bairradina e, pasme-se, nada menos de 26 castas estrangeiras, que vão da Zinfandel à Nero-d'Avola, passando pela Sangiovese, para que o vinho possa ostentar a denominação: Alentejo...
Num país como o nosso que, na Europa, é um dos que maior diversidade de castas autóctones possui, esta portaria globalizante parece-me um enorme disparate. Uma autêntica corrida cega para a descaracterização de uma região vinícola demarcada.

6 comentários:

  1. Só não vejo porque tirou o coelho da cartola. Pois se esta é uma simples alteração a uma portaria do saudoso governo do outro, o que está em Évora a olhar, gulosamente, para a cicuta, enquanto pensa: "os galos que devemos ao Asclépio não são para pagar, são para ir gerindo"...

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    1. Por duas razões: o Coelho tem Cristas e o presente pode emendar, quase sempre, os erros do passado, pelo menos neste caso.
      O produtor deverá ter a liberdade de usar as castas que quiser, mas não deve ter direito ao vinho ser classificado como "Alentejo". Uma região demarcada deve ter regras mais estritas e castas limitadas - as tradicionais da Região. Que andarão por aqui (Alentejo) a fazer a Riesling e o Petit-Manseng? Por esta ordem de ideias(?)
      libérrimas, teremos de aceitar o "Vinho do Porto" da África do Sul e da Austrália...
      E acho o cúmulo da ironia, o intróito onde o sr. Albuquerque diz: "...por forma a preservar e salvaguardar as práticas tradicionais..."

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  2. Pois, mas o governo limita-se a colocar no Diário da República o que a setor e a região definem. E, quanto a mim, bem, desde que o assunto seja tratado seriamente. Não gostaria de ver a Dra. Cristas ou o secretário Albuquerque a impor a sua ignorância à própria Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), um organismo de direito privado e utilidade pública que certifica, controla e protege os vinhos DOC Alentejo e os vinhos Regional Alentejano, que escreve no seu site: "No Alentejo, para além das muitas castas autóctones que imprimem um forte carácter regional, variedades perfeitamente adaptadas à geografia e às condicionantes da paisagem alentejana, primam outras variedades forâneas, de introdução relativamente recente, castas de valor reconhecido que reforçam a liderança vitivinícola do Alentejo.

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    1. Deixe-me duvidar (a velhice é também cepticismo...) não do que diz, mas da bondade e ciência do diálogo entre as comissões regionais e o governo...
      As "forças vivas" das regiões são, por princípio, consevadoras; basta lembrar o que se passou na Bairrada (talvez a região vinícola portuguesa mais mal-amada) que, à viva força, só queria trabalhar com a Baga, nos vinhos tintos. Não fosse o pioneirismo de Luís Pato, ostracizado na altura, e os vinhos dessa região ainda teriam menos expressão, hoje em dia.
      Volto a insistir: liberdade para os produtores, mas restrição, rigor e disciplina na denominação.

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    2. Deixe-me concordar consigo: rigor e disciplina são fundamentais. A denominação pode evoluir, mas cada alteração não pode ser justificada em critérios comerciais, mas bem amadurecida, analisada por critérios que também são históricos, culturais, patrimoniais.
      Mas eu sou do Douro, e sei bem que o pioneirismo, a experimentação e a rebeldia de alguns permitiram que o vinho que se bebe hoje ali seja melhor, infinitamente melhor, do que o dos meus tempos de juventude, sem perder - pelo contrário! - a genuinidade daquele território e daquela gente.
      Se há coisa em que os franceses, os italianos, os espanhóis e os portugueses podem mostrar aos outros é que as suas vinhas podem integrar inovações e experiências sem perder o pé na terra.

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    3. Costumo dizer, um pouco por brincadeira, que, pelo menos, nos últimos 30/40 anos, em Portugal, houve três coisas que melhoraram consideravelmente, em qualidade: as estradas, o tratamento dentário e os vinhos.
      Neste último ponto, temos, por isso, inteira concordância.

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