A leitura que fiz de "Un Pedigree" (2004), em menos de um dia, ter-se-á ressentido, porventura, de ter sido ensanduichada entre a imediatamente anterior (L'Escalier de Fer, de Simenon) e a que se tem vindo a seguir (Balanço Final, de Simone de Beauvoir). Há que dizê-lo, por uma questão de isenção e honestidade. Porque são ambos, estes dois últimos livros, de grande qualidade literária.
Em jeito de resumo ou conclusão de leitura, eu diria que esta obra de Patrick Modiano (1945) é um livro, no mínimo, desconcertante. Porque, não sendo propriamente uma autobiografia, também não é uma obra de ficção, até porque as variadas figuras que por ele perpassam, não chegam a ter consistência literária, nem suficiente espessura psicológica. Muito menos será um ensaio. Mas Modiano bem nos tinha avisado: "J'écris ces pages comme on rédige un constat ou un curriculum vitae...".
Tirando uma acrimónia ressentida subtil, mas crónica, em relação ao pai e, embora menor, em relação à mãe ("C'était une jolie fille au coeur sec."), a narrativa é bastante asséptica (fria?), quanto a sentimentos ou descrição de emoções. A multidão infinita de personagens, que a cruzam e o ritmo veloz, fazem lembrar umas "Páginas" (ou será "O mundo à minha procura"?), de Ruben A., a que faltasse um estilo marcado e uma efabulação metafórica e imaginativa.
E há uma pergunta que, uma vez lido este "Un Pedigree" (título homenageando Simenon), fica a pairar, neste leitor que eu fui: Será isto verdadeira literatura? Pese embora que a leveza é este ar fluído, breve e efémero que predomina, em muitos dos livros que se publicam, nos nossos dias...
agradecimentos a H. N., pelo empréstimo amigo.
Pois, estou a lê-lo já há bastante tempo, sem grande entusiasmo. Fiquei na p. 23 e interrompi. Penso que para a semana continuarei a leitura.
ResponderEliminarAs páginas que li parecem uma cronologia.
APS, este livro nada tem a ver com os outros dois livros que li de Modiano e de que gostei. Tenho na calha uma outra leitura deste Nobel: No café da juventude perdida.
Pois seja...
EliminarMas não me ficou grande vontade de reincidir neste escritor.
Incrível: estou a ler precisamente L'escalier de fer... Comecei ontem, acabo hoje.
ResponderEliminar"Les beaux esprits se rencontrent"..:-))
Eliminar... o mesmo não dirá o desgraçado do Etienne Lomel......................
ResponderEliminarHaveria que pensar que, como qualquer ser humano, perante uma mesma situação, Louise poderia reincidir...
EliminarAaaaarrrgh... Quase me revelou o final... Quase - afinal, cocu não empacota Cornu nem Lulu...
EliminarLoulou.
EliminarImperdoável distração a minha, peço desculpa. Embora de final, apesar de tudo, inesperado...
ResponderEliminarUm magnífico Simenon, sem dúvida, com grande tensão narrativa.
Vejo este livro de Modiano como um testemunho. E, quanto a mim, ainda bem que ele o escreveu.
ResponderEliminarAliás, acho que, para mim, já aqui disse que a atribuição do Nobel a Modiano tem a ver com a preservação da Memória que está sempre presente em todos os seus livros (pelo menos naqueles que li).
Miss Tolstoi
Não sei se o livro não deixa de ser um caso à parte na bibliografia de Modiano, mas, Miss Tolstoi, para mim, a obra não passa de uma "enomeração" (sequência de nomes) arrumada cronologicamente. E, por não ter substância, é que se lê rapidamente. Não a julgo integrável na categoria de literatura.
EliminarSe me permitem a sugestão de um livro que faz da "enomeração" uma obra-prima literária: Conversas de Manhã e de Tarde, de Naguib Mahfouz.
EliminarAgradeço a dica. Irei ver se lá chego.
EliminarGosto bastante de Naguib Mahfouz, outro Nobel, mas nunca li o que cita.
ResponderEliminarRecomecei hoje, numa viagem de metro, a leitura de Un Pedigree. :)
ResponderEliminarLê-se bem, mas quase nada fica..:-)
EliminarJá o Pedigree original não é tão fácil de esquecer.
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