Perante determinadas efemérides aconselha a prudência alargar o horizonte a uma variedade de abordagens possíveis, próprias de uma leitura plural da História. Respeito, e tento compreender, os olhares múltiplos, sendo sérios, sobre o mesmo acontecimento, como foi a queda do muro de Berlim. Não suporto, contudo, na História e na vida, o espectáculo em detrimento de um esclarecimento abrangente que acrescente algo sobre o caminho do ser humano pela terra.
Com efeito, o que sucedeu a 9.11.1989, e não apenas em Berlim, foi o final de uma divisão artificial de um espaço geográfico, linguístico e cultural comum, como consequência do fim da 2ª Guerra Mundial. Convém lembrar, até confirmação oficial em contrário, que existe apenas um armistício entre a Alemanha e as nações vencedoras: a França, a Inglaterra, a América e a Rússia. Enquanto a América, na área da sua influência, mantinha, ainda nos anos 70 do século passado - certamente com anuência do Estado Federal - as placas nas auto-estradas em Inglês e Alemão, a Rússia, por razões diversas, optou por traçar uma fronteira - estanque - à volta da sua zona de ocupação, cujo símbolo passou a ser a divisão da cidade de Berlim.
No entanto, e no meio dos festejos, que muitas vezes não contribuem para um esclarecimento cabal da História, convém lembrar que na noite de 9 para 10 de Novembro de 1938 ocorreu, na maior parte das cidades da Alemanha, a começar com Berlim, a chamada "Noite de Cristal" em que, entre outros atentados à dignidade humana, os estabelecimentos de judeus foram vandalizados, sem esquecer as grandes fogueiras de livros nos idos de 1933.
Das duas efemérides muito próximas, quanto ao dia, fica a apreensão perante uma "mole de gente" neo-fascista - tanto de um lado como, sobretudo, do outro lado da antiga "cortina de ferro" - assim como a herança transformada numa versão neo-liberal, profundamente provinciana, de uma figura a desempenhar o cargo de chanceler.
Será que o armistício se transforma num Tratado de Paz - duradouro - antes que se celebrem os 70 anos do fim da 2ª Guerra Mundial ?
Post de HMJ
Caro APS, muito obrigado por recordar a triste "Reichskristallnacht". Em anos anteriores, tive oportunidade de escrever sobre este acontecimento no Prosimetron. Alguns telejornais alemães recordaram a efeméride de 1938, ainda que as comemorações do 25º aniversário da queda do muro estivessem em primeiro plano. Como refere e muito bem, ambos os acontecimentos estão muito próximos, "quanto ao dia", e quanto à ligação e sequência históricas, as duas efemérides relacionam-se de forma trágica.
ResponderEliminarPS: Já vi os posts sobre a Knef. Uma grande senhora!
Caro FVN, no que diz respeito a esta grande senhora e belíssima voz, estamos inteiramente de acordo.
EliminarNo que diz respeito ao seu comentário, HMJ recomentará, com certeza, as suas pertinentes observações. Queria também agradecer as suas amáveis palavras que, no Prosimetron, dirigiu ao nosso Blogue que, amanhã, completa 5 anos de vida.
Desejo-lhe uma boa noite!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarPeço desculpa, verifiquei apenas agora que o post é da autoria da HMJ...
ResponderEliminarSomente para acrescentar mais dois factos históricos, ocorridos a 9 de Novembro, que naturalmente são do conhecimento de APS e HMJ: a proclamação da primeira república alemã por Scheidemann a 9 de Novembro de 1918, e o golpe falhado de Hitler cinco anos depois.
Curiosamente, terá sido Helmut Kohl a sugerir o dia 3 de Outubro como feriado nacional alemão em detrimento deste tão importante 9 de Novembro, por "questões meteorológicas": a probabilidade de mau tempo é superior a 9 de Novembro do que a 3 de Outubro. E como os franceses celebram o seu feriado em pleno Verão, os alemães deveriam igualmente ter a oportunidade de festejar ao ar livre (é o que narram os boatos...).
PS (e depois prometo terminar): um dos adjectivos fantásticos alemães que se aplicam ao dia 9 de Novembro, será "geschichtsträchtig". Alguma tradução que HMJ ou APS possam adiantar
Para FVN:
Eliminarobrigada pelo comentário e as achegas que completam a efeméride.
Relativamente a "geschichtsträchtig" seria, literal e metaforicamente, mais adequado falar em "prenhe de significado histórico, sendo que o "prenhe" se costuma esvaziar com a substituição de "cheio de significado histórico".
Vielen Dank!
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