Suscitado por um comentário surgido no Prosimetron, a propósito do uso "indevido" do vocábulo "bisegre", apetece-me hoje discretear sobre a vida, evolução e, por vezes, morte das palavras. Nem todos saberão, por exemplo, que, no Minho, às nêsperas lisboetas se chama magnório ou magnólio; e que "nêspera", a Norte, é um outro fruto, de Outono/ Inverno, de cor escura, miolo farinhento e também castanho-escuro, e um pouco insonso. Quem terá sido o criador da expressão "cantar à capela"? Quem se terá lembrado da palavra "andante" para nomear o metropolitano portuense? Quem terá autorizado, criativamente, que "pingo" seja, no Sul, denominado "garoto"? Mas é precisamente esta liberdade vocabular, este borbulhar vulcânico e esta criatividade sempre viva que faz a riqueza de uma língua. E escuso-me a falar do enriquecimento enorme que os brasileiros trazem ao nosso idioma comum.
Nos meus tempos de juventude, usava-se "pipi da tabela" para apelidar, depreciativamente, alguém que tentasse, mesmo sem meios ou condição, andar à moda, de forma exibicionista e exuberante. Por outro lado, "pips", definia alguém elitista no trajar, mas de bom gosto, e que vestisse bem. Mas estas expressões acabaram por morrer, no tempo. Hoje, "bètinho" corresponde, de algum modo, ao "pipi da tabela" do meu tempo. A língua procura, sempre, novos vocábulos, actualizados, para caracterizar, tiques e vícios eternos.
Será que "bètinho" vai durar muito tempo? Penso que não. E o que são 30 ou 40 anos na vida de uma língua? Muito pouco, com certeza. E, depois, ainda há os dialectos "de família" que são de um universo geográfico muito mais restrito. E estão muito mais sujeitos a desaparecer. Ou evoluir.
Nem todas as palavras terão a força intrínseca de sobrevivência e as metamorfoses por que vão passando, algumas, permitem-lhes, talvez, a vida "eterna" nesta fervilhante e vulcânica, sempre amada, língua portuguesa.
Não sabia do magnório.
ResponderEliminar"Pipi" sem "da tabela" também se usava cá por baixo, com o mesmo significado. :)
Desconhecia "pips".
"Betinho" e "Menino da Av. de Roma" daqui a uns anos deve passar a "[?] do Oriente". :)
Tão interessante tudo o que fala das palavras, da língua, da evolução contínua, quer queiramos quer não, adaptando-se ao meio, à família, à terra...
ResponderEliminarEu sou alentejana e havia na minha cidade, Portalegre, palavras que nunca mais encontrei! E tinham um "sabor" diferente. A tal "conotação" que tudo altera, num sentido ou noutro, e enriquece.
Adorei o "andante"! E o "pingo"...que coisa mais linda?
Não gosto é que a "destruam"... E tenho muita pena que este acordo ortográfico comece mesmo a "entrar". Para que serve o que aprendi de latim e tanto me ajudou a não dar erros...ortográficos?!!
Abraço. Gostei muito!
Magnório ou magnólio será, porventura, um caso extremo, até porque há o feminino, com significado de flor. Não sei, MR, se botanicamente serão da mesma família. Há, por vezes, desvios nestas evoluções linguísticas...
ResponderEliminarFaz todo o sentido o "aggiornamento" para do "Oriente", por variadíssimas razões..:-))
Há um livro (3 volumes), MJFalcão, bem interessante, da sua zona ("Gente de Portugal - sua linguagem- seus costumes", Portalegre, 1981), porventura seu conhecido, que fala sobretudo de frases idiomáticas regionais. Tenho vindo a usá-lo na rubrica "Idiotismos", do Arpose.
ResponderEliminarSobre o Acordo, são contos largos...e bizantinices. Até porque o inglês, com diversidades maiores do que o português, nunca precisou de ser drasticamente "disciplinado" ente a Ingalaterra, o Canadá, os Estados Unidos, a Austrália... e entendem-se, entre eles, bem - creio.
Em tempo, errata:
ResponderEliminarentre, em vez de "ente"; Inglaterra, em vez de "Ingalaterra"
Andante não é o Metropolitano do Porto.
ResponderEliminarAndante é o nome do "passe" ou bilhete pré-comprado, para o Metro do Porto; como não há cobrador no Metro criou-se um bilhete, baptizado com o nome de Andante, porque não precisava de parar para comprar o bilhete manual...
Ainda tenho um desses bilhetes da primeira viagem que fiz no "Metro" do Porto. Carregava-se como hoje se faz com os "verdinhos" do Metro de Lisboa.
Os do Porto, em Azul... só podia ser.
E tem lá escrito... ANDANTE
E sabem o que é "andar a nove"... ou estás aqui estás a "sair a nove".... ou "vais a nove"...
ResponderEliminarExpressão de Lisboa que se espalhou ao resto do País.
Muito obrigado, JAD, pela correcção do meu erro, quanto ao "andante".
ResponderEliminarConheço a expressão "andar a nove" com o significado de: andar depressa, ou correr; mas não lhe sei a origem.
Então vou contar, no dia 23, no outro "sítio do costume" em homenagem a quem me ensinou o significado.
ResponderEliminarComo é um Bisegre, quero ver uma foto.
ResponderEliminarEntão o sr. anónimo, não sabe ler, e só consegue perceber as coisas e palavras através de fotografias?
ResponderEliminarO seu querer é caprichoso e pouco educado,sobretudo, para quem nem sequer se identifica. Por isso, não lhe vou fazer a vontade