Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.
Os Lusíadas, Canto X, 145.
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ResponderEliminarBem escolhidos, assim como os versos de José Gomes Ferreira, abaixo.
ResponderEliminarBom dia!
Os bons poetas abarcam o mundo, seja ele qual for...
ResponderEliminarBom dia, MR!
Faço minhas as palavras já escritas: tão bem escolhido!
ResponderEliminarBom feriado!
Obrigado, Isabel.
ResponderEliminarRetribuo os votos.
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ResponderEliminarRealmente é impressionante como estas palavras são tão certeiras, quase quatro séculos e meio depois de serem publicadas! Será este o nosso fado?!
ResponderEliminarNão admira, com as eminências pardas que nos assombram os dias...
Tenho para mim (talvez irracionalmente) que há características nos povos que se vão perpetuando, geneticamente. Uma certa fanfarronice, uma bipolaridade entre a melancolia lírica e o heroísmo empolgante, alguma genialidade de improviso, o gosto de dizer mal de nós própios... Já Estrabão, há séculos, dizia que "os lusitanos não se governam, nem se deixam governar".
ResponderEliminarE depois, Maria, os poetas ou vates (=profetas), os bons poetas têm a obrigação de perceber tudo isto. Sá de Miranda, Camões, Pessoa eram autênticos portugueses e percebiam bem o que era sê-lo e sofrê-lo. Porque raramente tivemos governantes à altura, e as situações, ciclicamente, se repetem, para mal de nós.
Por isso estes versos de Camões são tão presentes.
Bem, embora Camões aqui não esteja a fazer um vaticínio (= profecia) :) - está apenas a exprimir desencanto pelo seu presente - soa-nos como tal já que , como diz, as situações repetem-se; mas não acredito muito nesse fatalismo, mesmo que baseado na genética. Afinal há muitas ideias feitas sobre o país e os portugueses, como essa frase de Estrabão, um grego que nunca pôs os pés na Península , e que é geralmente citada quando estamos a ser mal governados e se procura atribuir parte das culpas a um povo que "não se deixa governar"...
ResponderEliminarHaverá "vocações", Maria, pelo menos. Não somos um país dado a filosofias, só com muito boa vontade encontramos 2 ou 3 filósofos portugueses; músicos de qualidade internacional e reconhecida, muito poucos. Pintores, apesar da nossa belíssima luz, também não haverá muitos. Temos, certamente, uma mão cheia de grandes poetas - o que não será coisa pouca.
ResponderEliminarNão é, em definitivo, o povo português que é mau, mas, às vezes, escolhe muito mal e sem sentido crítico que, frequentemente, nos falta.