segunda-feira, 10 de junho de 2013

Camões


Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida. 
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.

Os Lusíadas, Canto X, 145.

10 comentários:

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  2. Bem escolhidos, assim como os versos de José Gomes Ferreira, abaixo.
    Bom dia!

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  3. Os bons poetas abarcam o mundo, seja ele qual for...
    Bom dia, MR!

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  4. Faço minhas as palavras já escritas: tão bem escolhido!
    Bom feriado!

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  5. Obrigado, Isabel.
    Retribuo os votos.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Realmente é impressionante como estas palavras são tão certeiras, quase quatro séculos e meio depois de serem publicadas! Será este o nosso fado?!
    Não admira, com as eminências pardas que nos assombram os dias...

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  8. Tenho para mim (talvez irracionalmente) que há características nos povos que se vão perpetuando, geneticamente. Uma certa fanfarronice, uma bipolaridade entre a melancolia lírica e o heroísmo empolgante, alguma genialidade de improviso, o gosto de dizer mal de nós própios... Já Estrabão, há séculos, dizia que "os lusitanos não se governam, nem se deixam governar".
    E depois, Maria, os poetas ou vates (=profetas), os bons poetas têm a obrigação de perceber tudo isto. Sá de Miranda, Camões, Pessoa eram autênticos portugueses e percebiam bem o que era sê-lo e sofrê-lo. Porque raramente tivemos governantes à altura, e as situações, ciclicamente, se repetem, para mal de nós.
    Por isso estes versos de Camões são tão presentes.

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  9. Bem, embora Camões aqui não esteja a fazer um vaticínio (= profecia) :) - está apenas a exprimir desencanto pelo seu presente - soa-nos como tal já que , como diz, as situações repetem-se; mas não acredito muito nesse fatalismo, mesmo que baseado na genética. Afinal há muitas ideias feitas sobre o país e os portugueses, como essa frase de Estrabão, um grego que nunca pôs os pés na Península , e que é geralmente citada quando estamos a ser mal governados e se procura atribuir parte das culpas a um povo que "não se deixa governar"...

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  10. Haverá "vocações", Maria, pelo menos. Não somos um país dado a filosofias, só com muito boa vontade encontramos 2 ou 3 filósofos portugueses; músicos de qualidade internacional e reconhecida, muito poucos. Pintores, apesar da nossa belíssima luz, também não haverá muitos. Temos, certamente, uma mão cheia de grandes poetas - o que não será coisa pouca.
    Não é, em definitivo, o povo português que é mau, mas, às vezes, escolhe muito mal e sem sentido crítico que, frequentemente, nos falta.

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