É sempre difícil avaliar, até que ponto, uma obra esquecida de juventude, ou renegada pelo seu autor, pode contribuir para um melhor entendimento do percurso de um poeta. Por vezes, o aproveitamento total de poemas, e cronologicamente tardio, não ajuda a uma unidade de estilo ou coerência, e qualidade que o autor desejou. Será o tal "assassinato por entusiasmo" de que fala Cioran.
O jornal El Pais noticia, hoje, a publicação de um livro com inéditos de Juan Ramón Jiménez (1881-1958), dos anos 1911/2, constituído por poemas de juventude.
O livro que, na época, esteve para ser impresso, foi abandonado por J. R. J., para evitar ferir os sentimentos da sua noiva e futura esposa, Zenobia Campubri.
Se Jiménez o tivesse publicado na altura própria, nada haveria a dizer. Assim, tenho de concluir que o amor, neste caso concreto, não foi amigo da Poesia.
Mas não deixo de estar curioso e interessado em ler esta juvenília do poeta do Moguer. Até porque ele é um dos meus eleitos, na língua castelhana...
Discordo, em absoluto, que se publiquem obras que os autores deixaram por publicar por acharem que não tinham qualidade - em muitos casos, ficaram "na gaveta" à espera de lhes poderem dar uma volta -, ou obras que os autores publicaram e que mais tarde renegaram por acharem que não tinham qualidade, como o caso do primeiro romance de Vergílio Ferreira.
ResponderEliminarAqui, não sei. J.R.J. pensou em publicar o livro, só não o fez «para evitar ferir os sentimentos da sua noiva e futura esposa, Zenobia Campubri», Parece que o problema, para o autor, não seria a falta de qualidade...
Acho que o Estado devia zelar, naqueles casos, por fazer cumprir as vontades dos autores, quando estes estão mortos.
Neste caso, MR, parece-me justo e quase natural que os poemas de juventude de Jiménez venham à luz, pelas razões de que falei. Mas, na grande maioria dos casos, estou de acordo consigo: deve respeitar-se a vontade do Autor.
ResponderEliminarPercebo, inteiramente, a relutância do Eugénio para renegar o "Narciso" (que só folheei uma vez), "Adolescente" e "Pureza" que são, naturalmente, obras imaturas, embora já com certa frescura de voz.
Há casos em que só a falta de sentido crítico, a ganância e o desrespeito pelos autores explicam a publicação das obras.