domingo, 30 de junho de 2013

Da Janela do Aposento 35: Saber pensar, saber escrever (2)



Como remate do texto anterior, António Guerreiro ocupa-se, na ípsilon de 28.6.2013, dos exames.
A brilhante ironia da análise dos "enunciados e critérios de classificação" dispensa comentários menores. Sublinhei, contudo, dois aspectos que me obrigam a um aditamento pela repulsa, ainda incontida, que me provocam, apesar de me encontrar já, formalmente, "posta em sossego".
O "discurso treinado ao longo do ano" transformou, há muito, o 12º Ano, na área do Português e Literatura Portuguesa, num espaço circense, em que o domador treina os "animaizinhos" a papaguearem as respostas contidas nos numerosos "materiais de apoio" que fazem as delícias das vendas de grupos como a Leya e outros. Felizmente, consegui sempre ficar longe de semelhante espectáculo degradante, pois havia sempre muitos candidatos "decanos" que assumiam tais funções como corolário brilhante das suas carreiras.
A "justiça infalível e universal", de que fala António Guerreiro, é a base do dogma que arruinou a liberdade de ensino e conseguiu, democraticamente, implementar um desejo do Estado Novo, i.e., anular o pensamento próprio dos professores e alunos.
E, no meio de tantos "cenários de resposta", permanece uma "chatice" insolúvel, ou seja, a incapacidade de eliminar a subjectividade própria da Literatura que atrapalha tudo.
Falta, pois, uma "prescrição" que obrigue os escritores - e sobretudo os poetas - a produzirem textinhos mais adaptados à pretensa objectividade dos exames. A partir daí, teríamos, certamente, um sucesso retumbante nas estatísticas.

Post de HMJ

2 comentários:


  1. Estes textos de António Guerreiro são como música para os meus ouvidos...
    Aí está outra coisa que me custou muito a aceitar: em nome da objetividade de critérios, pretender-se normalizar tudo em tabelas, em intermináveis listas de preceitos, como se se pudesse formatar o pensamento de alunos e professores, eliminar a subjetividade da interpretação e da avaliação, medir tudo... sabendo nós bem, sobretudo quem é de letras, que não estamos no domínio do mensurável.
    Com a atual super-valorização das tecnologias e das ciências ditas exatas em detrimento das humanidades chegámos a isto...
    Bom dia HMJ

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  2. Para Maria A.:
    e temos tido tão pouca música ...
    Também um bom dia para si.

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