sexta-feira, 28 de junho de 2013

Recuperado de um "moleskine" (3)


Entre o silêncio e uma soada tímida, vai alguma diferença e alguns degraus na escala; entre o resmoneio da reza, na fresca e pétrea catedral, e uma restolhada de pássaros, escondidos na árvore frondosa, pela tarde de Verão, abre-se uma clareira de diferenças. Entre ruído e barulho, as coisas sobem de tom. A voz humana pode assumir vários timbres, mas a música tem um poder mais forte - e qualitativo. Irmã do silêncio, manifesta-se, quase sempre, em harmonia.
Mas também uma criancinha ululante, na rua, se distingue do urro colectivo nos estádios superpovoados.
E de um infante que grita, ligeiramente, para chamar a atenção dos pais, ausentes ou distraidos, pode vir apenas uma diferença cultural que, em nada se assemelha a um grupo adolescente que grunhe, porque mal sabe pronunciar palavras humanas.
Aos adultos deve-se-lhes pedir algum equilíbrio, em contexto próprio. Mas o homem de cabeça já saraivada, que entrara ziguezagueante na esplanada, vinha alumbrado de olhar e foi canhestro (quase caiu), ao sentar-se à mesa. Contemplou desbocado o casal jovem, a uns 3/4 metros, mais a criança loira com corte de cabelo exótico. Cerca de dois minutos depois, balbuciou a meia voz: "O cabrão do rapaz tem um cabelo lindo! Parece um cão rafeiro..."

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