terça-feira, 18 de junho de 2013

Simbologia, cartas de jogar e heráldica (pela rama)


Antes de mais convém dizer, em abono da verdade, que nada percebo de heráldica (penitencio-me antecipadamente de alguma incorrecção), mas sempre gostei de jogar cartas - a Sueca, o King e o Poker eram os meus favoritos. Por outro lado, a simbologia sempre me interessou e, sobretudo, a sua evolução através dos tempos, na personificação actualizada dos próprios símbolos e no seu alargamento de espaço e significado, maleável e adaptado.
Do folhear de um livro, tese de licenciatura de Francisco de Simas Alves de Azevedo (Uma Interpretação Histórico-Cultural do Livro do Armeiro-Mor, 1966, Lisboa), rico em informações, veio-me o saber que os armoriais, normalmente, se iniciavam pela iconografia dos chamados "Nove da Fama" (Josué, o rei David, Judas Macabeu, Alexandre Magno, Heitor, Júlio César, o rei Artur, o imperador Carlos Magno e Godofredo de Bulhões), com os seus respectivos atributos (brasões, bandeiras e outros símbolos identificativos). No final do séc. XIV, juntou-se-lhes Bertrand du Guesclin, passando a ser os "Dez da Fama".
Desta simbologia religiosa e aristocrática, em Portugal, veio a seguir-se uma heráldica das corporações e ofícios de que, talvez um dos mais curiosos exemplos, seja o das siglas das famílias, nos barcos dos pescadores da Póvoa de Varzim, que A. Santos Graça abordou no seu estudo "O Poveiro". Mas não foi só por aqui, pelas corporações, que as personagens "da Fama" tiveram influência e continuidade. Também nas cartas de jogar, os Reis e os Valetes (embora só 8) são inspirados neles.
E como a simbologia se move, alarga e adapta, deixo em imagens, essa representação de reis e valetes de um baralho de cartas de jogar, da segunda metade do séc. XX. Aqui, os homens "da Fama" são ruanos e proletários, laicos tipos regionais das províncias portuguesas. Um longo caminho percorrido, sem dúvida.

12 comentários:

  1. Gosto de cartas de jogar e gostava de jogar. Agora, já nem sei...

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  2. Também me acontece o mesmo, Miss Tolstoi...

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  3. Estes reis e valetes são muito plebeus. :)

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  4. interessante! não sabia...

    já não há heróis de capa espada a quem homenagear, os verdadeiros heróis estão no povo! Gosto desta cartas, gosto de cartas e postais que aludem à etnografia de cada local, temos um país onde as tradições, iconografia, trajes...são muito ricas e variada.

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  5. As damas, MR, também são ruanas, mas bem bonitas...

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  6. Também eu não sabia, Teresa, até ler o livro...
    E acompanho-a no gosto dos trajes e costumes regionais portugueses.

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  7. O baralho, JAD, era oferta de um Banco (pelo Natal?) a alguns clientes. Foi um bancário, meu amigo, que mo deu.

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  8. É, no mínimo, bem esgalhado, embora feito na Bélgica...

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