O horizonte na Outra Banda, visto daqui, é ainda róseo e azul. Harmonioso na altura das casas e nas elevações: apenas o castelo de Palmela se destaca, dominante, sobre o casario ribeirinho.
Pensarão alguns, mais despreocupados e desatentos, ou apenas ingénuos, que especulo, imagino demais, que penso obsessivamente sobre a inexplicável caridade (poste "Generosidades, com alguns pontos..." de 27/5/2013) dos linquedins, dos feicebuques, dos gugles, dos iáús e quejandos. Na sua criação e origem, muito embora muito mais sofisticados, têm as mesmas razões amorais da Stasi, do KGB, da Pide. E a mesma ética de devassa nojenta.
O quixotesco, mas corajoso Edward Snowden veio dizer, preto no branco, que estes rios poluídos, desaguam as suas informações sobre nós, repito sobre nós, na foz ampla das CIA & Cias. Mesmo que sejamos inofensivos e impolutos cidadãos. É este o mundo em que vivemos, queiramos ou não. Snowden anda fugido, nós clicamos, neste momento, no computador... Orwell ri-se do além, por ter tido razão antes do tempo.
Eu não diria que Orwell teve razão antes do tempo. Teve-a no tempo certo, mas teimamos em não entender.
ResponderEliminarOs que verberaram (diz-se assim?) o velho George W. que façam uma pequena introspeção. Não é propriamente aos gugles que devemos acusar, mas aos que espiam os gugles, por muito Obamas que sejam. Esses é que são as Stasi, as CIA, as KGB, as PIDES.
Sinto o mesmo, por isso só tenho o blog (e sem fotos pessoais). Aflige-me a falta de privacidade e o facto de qualquer pessoa saber o que estamos a fazer, onde estamos, onde vamos, quem são os nossos. Não é nada seguro.
ResponderEliminarExperimentei o FB e não gostei. E saí de cena, claro. Para manter o contacto com os amigos (os verdadeiros), prefiro o mail ou o Skipe. Além disso, tenho direito ao meus mistérios, aos meus segredos, aos meus pudores. O Twitter, então, faz-me muita confusão. Tanta exposição afecta muita a nossa liberdade, pelo menos é o que sinto. Já não há noção de mistério. Perdeu-se e é uma pena.
Não haverá muitas diferenças, meu caro Artur Costa, ou atribuição de culpas entre o Frakenstein e o seu imaginoso criador. É apenas uma questão de grau.
ResponderEliminarA banalidade do mal de que fala Hannah Arendt, a propósito de Eichmann e de Hitler.
O exibicionismo consentido e explorado ainda é aquilo que mais me choca nesta post-modernidade mediática, sem falar dessas agências de polícia política que nos cercam.
ResponderEliminarEmbora os que o não desejem, pouco possam fazer para o evitar, há também imensa gente, com vidas rasteiras e banais, que se põe a jeito, porque parecem não saber viver para outra coisa, senão isso.
Que lhes faça proveito!
Vejamos, o ser humano é exibicionista.
ResponderEliminarNa Natureza, sobrevivem os exibicionistas, enquanto os outros ficam a vê-los procriar alegremente, enquanto a sua linhagem se extingue, orgulhosamente. Sós.
O exibicionismo, mesmo sendo a única saída para muitos de vida rasteira e banal, é uma saída que eu até compreendo. E adoro odiar.
Acho imoral acusar os exibicionistas (ou os ingénuos), metendo-os no mesmo saco dos "vigilantes", que lançam o isco e depois se deliciam, viciosos, a ver e escutar, dia e noite (sim, porque sempre que coloco uma alarvidade no Facebook ou no Linguado imagino o agente Smith entregando-se a práticas onanistas, mas não mais do que isso).
Brincadeiras à parte: preocupa-me o que veem de mim os meus próximos. Quanto e o que lhes revelo. Exponho-me na medida em que acho que eles vão compreender.
Quanto ao agente Smith, se nos está a ler, preocupa-me zero.
Se não fossem os gostos, o que seria do amarelo? - como diz o povo.
ResponderEliminarMas eu não seria tão assertivo e dogmático, na generalização simplista que faz, na sua primeira frase de re-comentário.
Houve sempre o sim, o não e o talvez, sendo que o último será sempre o mais rico e mais vasto, pelas variedades que comporta e permite.
Sigo com muito interesse o ARPOSE, mas chego quase sempre atrasada e por isso acho muitas vezes que já não vale a pena comentar. No entanto, há posts em que me apetece "meter a colherada"... e este é um deles... :)
ResponderEliminarConcordo com o APS em relação a Orwell. Também acho que ele teve razão antes do tempo porque soube interpretar os sinais do mundo que o rodeava em 1948, o ano em que escreveu “1984” e criou o Grande Irmão. Nessa altura, não existiam ainda os sofisticados meios tecnológicos que permitem hoje espiar as vidas de todos nós, meros cidadãos comuns, por mais que o tentemos evitar... e ele previu isso e por essa razão o considero um visionário.
O que sempre me fez impressão é que algumas “mentes brilhantes” tivessem conseguido transformar o conceito por trás daquela figura sinistra orweliana num programa de entretenimento popularíssimo, em que já tanta gente - não só anónima à procura de fama, mas também figuras conhecidas - alegremente se tem prestado à devassa da sua intimidade...
Ultrapassa a minha compreensão!
E começamos a perceber como afinal a realidade pode ultrapassar a ficção, pelo menos em dimensão...
Também estive para falar de Aldous Huxley e dos seus "...Mundo Novo", mas Orwell pareceu-me mais profético e acutilante nas deduções sobre o futuro.
ResponderEliminarDepois há uma indústria inteligente (ou "mentes brilhantes") que consegue adoçar neutralizando, rentabilizando e integrando no sistema os símbolos mais alternativos ou, eventualmente, até revolucionários. Por exemplo, a imagem de Che Guevara nas "t-shirts". Claro que foi pensado. Esquece-se o valor humano de um exemplo, transformando-o numa moda, que até deve ter dado imenso lucro.
Está muito difícil lutar contra tudo isto...
É verdade, a mainstream vai-se apropriando dos fluxos marginais, sobretudo os que lhe põem em causa o sistema, trata de os ezvaziar de sentido e assim os neutraliza...
ResponderEliminarPenso até que o poema de Herberto Helder que publicou hoje denuncia esta prática do sistema.
ResponderEliminarÉ verdade, Maria. E de alguma forma, esta maneira teimosa de H. H. para tentar, a todo o custo, ficar ao lado deste "sistema" de formatação global.
ResponderEliminar