sábado, 8 de junho de 2013

Há 110 anos, Marguerite Yourcenar passou a existir


"...Como toda a gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou para nos convencer de que os têm; os livros com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas. Li quase tudo quanto os nossos historiadores, os nossos poetas e mesmo os nossos narradores escreveram, apesar de estes últimos serem considerados frívolos, e devo-lhes talvez mais informações do que as que recebi das situações bastante variadas da minha própria vida. A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Pelo contrário, e posteriormente, a vida fez-me compreender os livros. ..."

Marguerite Yourcenar (1903-1987), in Adriano (pg. 23).

4 comentários:

  1. Um livro maravilhoso. O quadro, que desconhecia, é lindo.

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  2. É, para mim, em literatura estrangeira do séc. XX, um dos grandes romances. Embora a "Obra ao Negro" também não desmereça de ser uma obra-prima.
    Também gostei bastante do retrato da Charlotte Musson.

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  3. Belíssimo o trecho escolhido, mas gosto particularmente desta frase: "A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos." A pimeira oração da frase faz-me pensar também, não só no que acontece com os livros/escritores, mas no que se passa, às vezes, actualmente, na blogosfera: pessoas que nós nunca vimos e pelas quais sentimos uma grande simpatia, pois escrevem muito bem, fazem-nos pensar, descobrir, emocionar, rir. Também gosto quando ela afirma:"... a vida fez-me compreender os livros". Há certos livros aos quais já tenho voltado devido àquilo que eu própria vou vivendo, experienciando, sentindo e refletindo.

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  4. O livro ( As memórias de) "Adriano", de M. Yourcenar, é uma obra-prima que se pode reler muitas vezes, porque descobrimos sempre coisas novas...
    Há uma passagem antológica (pg. 15? 16?) sobre o amor e o desejo, nessa obra, muito perspicaz que eu já referi e transcrevi, aqui, em "Memória 4" (8/12/2009). É de uma inteligência e distanciamento, também, sublimes.
    E creio que tem razão: há livros que só compreendemos tarde na vida.

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