segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Saint-John Perse


"...Solidão! o ovo azul que um grande pássaro marinho põe, e as baías de manhã completamente atulhadas de limões de ouro! - Era ontem! O pássaro desapareceu!
Amanhã as festas, os clamores, as avenidas plantadas de árvores de vagens e os serviços de inspecção das limpezas arrancando à aurora grandes pedaços de palmas mortas, bocados de asas gigantes... Amanhã as festas,
as eleições de magistrados do porto, os vocalizos nos arrabaldes e sob as mornas incubações de tempestade,
a cidade amarela, coberta de sombra, com as suas calças das raparigas às janelas. ..."
(Saint-John Perse, in Anabase, tradução de Carlos Cunha e Alfredo Margarido)

Marie-René-Auguste-Alexis Saint-Leger Leger nasceu em Guadalupe, a 31 de Maio de 1887, e veio a falecer a 20 de Setembro de 1975, precisamente há 35 anos. Diplomata de profissão, poeta sob o nome de Saint-John Perse, foi prémio Nobel de Literatura, em 1960. No seu discurso de agradecimento referiu: "...Através do pensamento analógico e simbólico, pela iluminação longínqua da imagem matricial, e pelo jogo das suas correspondências, por entre cadeias de reacções e de estranhas associações, pela graça enfim duma linguagem onde se transmite o movimento próprio do Ser, o poeta foi investido de uma superrealidade que não pode ser igual à da ciência. ..."
Poesia de ampla respiração, por onde perpassa um sopro bíblico de ancestralidade e profecia, a obra de Saint-John Perse assimila, em si, a alacridade colorida dos Trópicos ao realismo racional da melhor tradição clássica europeia. Num movimento perpétuo encantatório que se cruza, tangencial, com a imaginação atenta do leitor. É um dos grandes poetas do séc. XX (Anabase, Éloges, Vents...) e, por isso, o lembro - hoje e aqui.

2 comentários:

  1. Conheço muito mal Saint-John Perse, mas gostei do que li dele.
    E gostei do excerto que retirou do discurso dele no Nobel.

    ResponderEliminar
  2. Tive algumas hesitações nos textos que escolhi, porque fragmentar a poesia de S.-J. Perse, faz perder muita da magia encantatória que contém.
    Esta Poesia deve ler-se, sempre que possível, de enfiada, e seguida, sobretudo a "Anabase". Mas compensa!

    ResponderEliminar