Em Dezembro de 1966, E. M. Cioran visitou uma retrospectiva de Pablo Picasso, organizada, no Grand Palais, por Jean Leymaire, em comemoração do 85º aniversário do pintor espanhol. A 15 de Dezembro, regista ("Cahiers/ 1957-1972") o seguinte:
"Exposição Picasso. Um plagiador universal. Todas as formas de arte estão lá representadas: dir-se-ia que ele se aplicou a folhear álbuns e, em seguida... Desmesura; não é a obra de um homem, aquilo que vemos, mas a de quarenta. Ele seguiu todas as modas: oportunismo único, extraordinário. Imitador genial. Sincretismo, recapitulação geral antes do aparecimento da arte abstracta.
Tudo isto é do passado, que digo? é o passado. O passado resumido num só homem. Arrebatamento e decepção. Há algo de desonesto, de falso nesta super-produção. Alguém cuja carreira se não deve imitar - em nenhuma perspectiva. Picasso? É um génio faz-tudo."
Nunca fui um incondicional de Picasso, e creio que pelas razões enunciadas por Cioran. Constato, no entanto, que idêntica apreciação é possível (pelo menos em certa medida) relativamente à obra de Bach que, não obstante, é um dos meus compositores preferidos. Talvez porque Bach recriou a tradição, Picasso nem tanto... Não sei bem...
ResponderEliminarCom a idade,tenho vindo a gostar mais de Picasso,c.a.. Sobretudo quando ele tem aquele traço simples e sensível que quase o faz irmão gémeo de Matisse.
ResponderEliminarAdoro Picasso!
ResponderEliminarE o provocador Cioran lá diz: «Picasso? É um génio faz-tudo.»
A verdade é que viveu muitos anos, trabalhou muitíssimo e identifica-se sempre, seja nas suas fases azul e rosa, cubista, etc. Desenhou, pintou, fez gravura, escultura, cerâmica...
Um dia destes falarei de uma exposição de linóleos e gravuras dele que está em Cascais. Belíssima!
Naquelas dicotomias de juventude, por exemplo: Benfica/Sporting, Cavaleiro Andante/Mundo de Aventuras, eu preferia, inicialmente Salvador Dali a Picasso. Com o tempo e idade, comecei a apreciar (muito) (algumas)obras de Picasso - como digo acima. Na diatribe de Cioran há também alguma dicotomia...
ResponderEliminarEm relação a Picasso nunca tive isso, mas Salvador Dali, que eu apreciava muito na minha juventude... já não me entusiasma tanto.
ResponderEliminarDicotomias havia (e ainda há) na literatura, por exemplo, entre Eça/Camilo (preferia o segundo; hoje é-me difícil escolher entre os dois) e Dostoievski/Tolstoi (onde ainda continuo a preferir, de longe, o segundo).
Todos, os aqui citados, homens de génio.
E se eu tivesse aproveitado estas "mãozinhas" da foto para ilustrar o poema de Renata Correia Botelho?
ResponderEliminarSeria o máximo!...,mas teria de ter um espírito maléfico...(que acho que MR não tem).
ResponderEliminar:)
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