domingo, 12 de setembro de 2010

Salão de Recusados XXIV : A Fénix Renascida (3)


A uns noivos, que se foram receber, levando ele os vestidos emprestados, e indo ela muito doente, e chagada

Saíu a noiva muito bem trajada,
Saíu o noivo muito bem trajado,
O noivo em tudo muito conchegado,
A noiva em tudo muito conchagada.
Ela uma anágua muito bem bordada,
Ele um capote muito bem bordado,
Do mais do noivo tudo d'emprestado,
Do mais da noiva tudo d'emprastada.
Folgamos todos os amigos seus
De ver o noivo assim com tanto brio,
De ver a noiva assim com tantos brios.
Disse-lhe o Cura então: Confio em Deus,
E respondeu o noivo, e eu confio,
E respondeu a noiva, e eu com fios.

Tomás de Noronha


Soneto Moral

Não desejes mais honras que virtudes,
Não faças nada por respeito humano,
Ouve mal da lisonja o doce engano,
Obrando bem, do que dirão não cuides.
A todos na aflição benigno ajudes,
Usa sem fingimento um trato lhano,
Vence do próprio amor o grande dano,
Nas sortes ambas o ânimo não mudes.
Podendo escusar, a ninguém peças,
Arroja-te com glória ao precipício,
Não ocupes lugar que não mereças:
Paga com outro maior o benefício,
O fim olha das cousas que começas,
Louva o alheio bem, nota o teu vício.

Francisco de Brito Freire

9 comentários:

  1. Este Tomás de Noronha fez uns versos de duplo sentido que, em tempos, achei bastante graça. Lembro-me de um que metia o carangueijo e dois seixinhos... e mais não digo.

    ResponderEliminar
  2. Este Noronha era bastante chocarreiro, JAD, e por vezes um tanto fescenino (talvez volte a ele). Mas não consegui, no que tenho dele, localizar o caranguejo, nem os seixinhos. Não quer uma ajuda, com as "latitudes", a ver se eu encontro o poema?

    ResponderEliminar
  3. Mendes dos Remédios – Poesias Ineditas de D. Thomás de Noronha poeta satyrico do sec. XVII, Coimbra, França Amado – Editor, 1899

    ResponderEliminar
  4. Essa edição eu tenho,JAD, mas já lhe dei 2 voltas, é certo que em diagonal, e não consegui localizar. Devo estar "piticego", como dizia o Guimarães Rosa...

    ResponderEliminar
  5. E não é lá que vem o poema: A duas Senhoras que abriam as amêijoas com vergonha. Eu não consigo encontrar o exemplar cá de casa...

    ResponderEliminar
  6. Muito obrigado, JAD. Mas continuo sem encontrar: reli 2 vezes o indice, e nada. Amanhã vou pesquisar tudo o que tenho dele, a ver se encontro. Ou rever "A Fénix Renascida".

    ResponderEliminar
  7. Julgo que foi no livro de Mendes dos Remédios.... mas a minha memória está em farrapos....

    ResponderEliminar