A uns olhos tortos
Travessos olhos, que na travessia
Deixais todos os olhos derrubados,
Contra quem só três dedos cavalgados
São na manhã remédio a todo o dia:
Dos milagres, que fez Santa Luzia,
Nenhum sabemos de olhos enfrestados
E mais olhos que são tão namorados,
Que olham um para o outro à mor porfia:
Ciosos olhos, pois, essas meninas
Escondeis no mais alto das capelas,
Não consintais haver delas suspeita:
Torcei-lhe a condição de pequeninas,
Porque nunca se possa dizer delas
Quem torto nasce, tarde se endireita.
António Barbosa Bacelar
Pragas se chorar mais por uma Dama cruel
Não sossegue eu mais, que um bonifrate,
De urina sobre mim se vase um pote,
As galas que eu vestir sejam picote,
Com sede me deem água em açafate.
Se jogar o xadrez, me deem mate,
E jogando às trezentas um capote,
Faltem-me consoantes para um mote,
E sem o ser me tenham por orate.
Os licores, que beba, sejam mornos,
Os manjares, que coma, sejam frios,
Não passe mais na rua, que a dos fornos.
E para minhas chagas faltem fios,
Na cabeça por plumas traga cornos,
Se meus olhos por ti mais forem rios.
Tomás de Noronha
Sem comentários:
Enviar um comentário