terça-feira, 14 de setembro de 2010

Quarto crescente


O crescente lunar lembra-me sempre Mértola, por variadas razões. Mas só hoje reparei que a Lua está a nascer quase a Sul e, por isso, não a via, da varanda a leste. Foi preciso caminhar, por onde outrora uma mata densa, de uma Quinta antiga, crescia - hoje urbanizada -, para vê-la, magnífica no seu Quarto crescente. O luar dava para ver as oliveiras sobreviventes já podadas, o aloendro ainda florido, a relva recém-cortada. Mas onde íamos, não fomos: era o dia de folga.
Há sítios de nenhures, nos subúrbios, onde nascem oásis inesperados. Onde estamos, como podíamos estar em Düsseldorf, numa esplanada sobre os canais de Leyden a ver cumprir as praxes sobre os caloiros da Universidade. Numa pequena casa de chá de Kew Gardens. Ou num pátio interior de Antuérpia, a descascar mariscos do Mar do Norte, bebendo um "Riesling", em jubilosa amenidade e fraterna companhia. Em volta, apenas um rumor em "sotto voce", a música ambiente bem timbrada, mas discreta, que acorda as nossas palavras íntimas. E as crianças, não uivantes, se entretêm à volta, harmoniosas, sem gritos estridentes.
Dizer que estamos a 4 quilómetros da Las Vegas suburbana, ninguém entenderia. Eu próprio tenho dificuldade em acreditar. Não decorei o nome do café-restaurante-esplanada. Nem isso importa muito. Sei onde é. Mas chamemos-lhe, simbolicamente: Oásis. Ou de uma forma mais simples - Europa.


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