segunda-feira, 13 de setembro de 2010

As "greguerías" de Ramón Gómez de la Serna



Já aqui falamos (5 e 6 de Maio de 2010) deste espanhol que criou o termo "greguerías" e as produziu em grande quantidade. As primeiras eram mais longas, conceptistas (quase num registo Quevediano), mais objectivas e neutras; depois foram tendendo para maior concisão, humor, muitas vezes, num "flash" fotográfico, oportuno e perspicaz sobre a Natureza e os homens. Como um "hai-kai" europeu, mais livre e mais aberto. As 3 que traduzi, a seguir, pertencem à primeira fase e foram escritas entre 1913 e 1919.
1. Todas as carnes mortas parecem doer-se mesmo quando o talhante as corta. Todas menos o presunto... O presunto está satisfeito por ter melhorado com a morte e a salga; está satisfeito de ser o rico presunto, e gosta de repartir-se em fatias finas, revelando, além disso, a sua beleza fatiada e inconfundível.
2. Essas duas nuvenzitas brancas, sozinhas, pequenas como meninas - como meninas na primeira comunhão - que se veem, às vezes, no céu sereno, na grandeza admirável do céu. Parecem cheias de timidez e fechadas no meio da grande esplanada azul... Parecem ovelhas perdidas, extraviadas do rebanho, sem saber para onde ir, quietas e olhando para todos os lados, irresolutas e atónitas... Tão grande se transforma o seu sentimento de modéstia ante a imodésta extensão azul, que se desvanecem magicamente no azul.
3. No Outono deviam cair todas as folhas dos livros.

2 comentários:

  1. Só conheço as que foram traduzidas por Jorge Silva Melo para a Assírio & Alvim, mais ao estilo da terceira, de que gostei bastante. E a primeira é divinal (se o presunto também o for).

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  2. Era um prolífico operário das letras porque, para além de outras obras, Gómez de la Serna tem mais de 10.000 greguerías...

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