quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Livro da Montaria, de D. João I, a propósito



Entre um computador moribundo (?), lentíssimo a responder nas ligações, com a provecta idade de 9 anos (pelos vistos, atingem a velhice mais cedo do que os frigoríficos) e a sua decisão de abrir, folheio, na mesa, para entreter o tempo, mas com imenso agrado, o Livro da Montaria de D. João I (impresso para a Academia de Ciências, em Coimbra, no ano de 1918), que HMJ comprou muito recentemente.
É, segundo indicação de Francisco Esteves Pereira, conforme com o manuscrito nº4352 da BNP. Não resisto, no entanto, a transcrever da Introdução os desabafos do copista do séc. XVI, anónimo, que trasladou o texto, de outro manuscrito mais antigo. E que rezam assim:
"Copiado fielmente com todas as variações orthographicas que vinham no manuscrito, com todas as phrases não acabadas e periodos inintelligiveis, sem que lhe mudasse cousa alguma: até os borrões lhe copiaria se não temesse que m'os atribuissem, e não ao manuscrito. Só lhe acrescentei alguns acentos para que ficasse menos inintelligivel. Estou certo que me imputarão muitos erros que não são meus. Ora é pena que eu não esteja lá com o manuscrito nas mãos para lhe mostrar o contrario, e lhes roçar os narizes com elle. Que bastante tive em atentar em palavra por palavra, mas até lettra por lettra. F. A. C. (?)".

3 comentários:

  1. É extraordinário como um comentário consegue trazer à vida alguém cuja memória há muito anda perdida pelas brumas do tempo... Os livros são entes fantásticos, verdadeiramente mágicos! Obrigado pela partilha, APS.

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  2. Não sei se estará em sintonia, c. a., mas li ontem uma frase sobre Bergson, que vou citar, no original francês: "Ce ne sont pas des mots nouveaux mais parfois des mots très ordinaires qui font réflèchir par l'ensemble des rapports qui les constituent en un groupe caractéristique."
    (Madeleine Barthélemy-Madaule)

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  3. Estou em absoluta sintonia, APS, porque me referia ao copista, esse obscuro Francisco Esteves Pereira, cuja existência andava perdida nas brumas do tempo. Não tenho dúvida que a partir de agora, sempre que encontrar uma referência ao livro da Montaria de D. João I, irei recordar este singular comentário, seguramente mais sugestivo que o próprio livro...

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