Ao princípio do Verbo, foi o Mondego. Mas não devo ter dado por ele, porque mal tinha aberto os olhos para a luz, nesse fim de Maio tão distante, muito embora ele corresse para a foz, ali defronte. Logo depois o pequeníssimo Selho, muito mais a Norte, que no Verão desaparecia, mas ainda dava água para as fábricas de curtumes que lhe fizeram à beira, logo depois do Campo da Feira.
Veio depois o Ave, que era o meu rio de Setembro, em Santo Estevão de Briteiros, há muitos anos atrás. Um pouco traiçoeiro, porque tinha fundos inesperados que pareciam querer-nos sorver para baixo. O Chico vendeu a quinta e nunca mais por lá passou para evitar as saudades e a tristeza. De um tempo em que nem sequer havia luz eléctrica, mas as noites eram lindíssimas. E lá voltei ao Mondego, ainda desordenado, que no Verão não corria: um fiozinho de água que parecia ficar pasmado a olhar Coimbra. Por amores, herdei o Cávado e a sua linda foz de Esposende. Mas, em simultâneo e um pouco antes, o Tejo tinha feito a sua aparição na minha vida, em todo o seu esplendor, ainda cheio de barcos e navios. E, em 1968, o Lisandro de má memória - será melhor nem dizer nada dele... Anteriormente, um amigo falara-me com muito afecto do Sabor, um dos últimos rios selvagens de Portugal. Só me vim a banhar no seu leito pedregoso nos anos 90, num tórrido Verão transmontano. Que bem me soube aquela água fresca!...
Mas não posso deixar de falar do Vouga, o "rio mais tímido de Portugal" (Ruben A. dixit), que conheci em 1979, ali para as bandas de Albergaria-a-Velha. Passava por uma quintinha frutuosa e bonita, com um chalet mandado construir por um engenheiro suiço que ali se aboletou durante a II G. Guerra, por causa do volfrâmio. E o Vouga, remansoso, a lamber aquelas terras úberes era quase apaixonante - ainda hoje tenho saudades. Da quintinha, do chalet e do rio...
O Douro, o Reno e o Mosela ficarão para outro dia.
Porque, hoje, foi dia de molhar os olhos nas águas do Tejo como, às vezes, faço. À conversa, com a límpida luz primaveril, reflectindo-se em espelho, quase cegando. Depois, havia um pato selvagem rasando as águas, em idas e voltas. A que se juntaram mais dois em az, que subiram mais alto, e por ali andaram, interminavelmente, sobre o rio.
Um belo texto.
ResponderEliminarO Vouga era belíssimo visto da estrada, cheia de curvas, que vai de Aveiro para Viseu. Era e deve continuar a sê-lo, só que há anos que não faço essa estrada.
Muito obrigado, MR.
ResponderEliminarO Vouga é,no mínimo, um rio ameno e simpático.
Belíssimo texto.
ResponderEliminarTantos rios!... O «meu» rio é o Tejo, mas o Tejo é, praticamente, um mar...
É o que faz ser velho, c.a.: somam-se recordações, a maior parte boas. Que as más, vão-se esquecendo com o tempo... E obrigado.
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