segunda-feira, 14 de março de 2011

Antiqualhas minhotas


Houve um tempo em que a "indústria" do Linho e o seu cultivo, na zona de Guimarães, eram extensos e importantes. Havia 3 ou 4 lojas na cidade-berço, muito conhecidas, que vendiam roupa de linho. E vinham pessoas do Porto, Lisboa e até do Estrangeiro comprar enxovais de linho para as filhas casadoiras. E, em casa, faziam-se papas de linhaça (semente do linho) para pôr, aquecidas, sobre o peito congestionado dos familiares engripados e acamados.
Atrás e antes, havia campos e campos de linho floridos do azul das suas pequenas flores. E havia que fiar o linho e dobar as meadas para depois o vender. Era um trabalho moroso e lento que as mulheres faziam. Estas actividades eram, muitas vezes, acompanhadas por cantorias populares. Foi uma destas cantigas, de quadras, que encontrei no livro de Maria Palmira da Silva Pereira ( de que já falei aqui, no Arpose), sobre Várzea Cova, Fafe e arredores. A beleza muito simples das quadras populares leva-me a que as deixe transcritas, a seguir:

Doba, doba, dobadoira,
P'ra crescer o novelinho;
Eu queria urdir a teia,
ao cantar do passarinho.

Doba, doba, dobadoira,
Não te canses de dobar!
Aí vem o Março quente
P´ra minha teia curar.

Doba, doba, dobadoira,
Não te ponhas a chiar;
Eu queria urdir a teia
P´ra levar para o tear.

Doba, doba, dobadoira,
Não m' enguices a meada!
O novelo está pequeno
Minha mão já 'stá cansada.

O novelo era pequeno,
Não me cabia na mão;
Doba, doba, dobadoira,
Amor do meu coração!

para o António de A. M..

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