domingo, 4 de outubro de 2015

Osmose 57


Na maré baixa, há sempre um espaço intermédio, um pouco húmido, entre o mar e a areia seca. É lá que, por vezes, pousam aves marinhas, sobretudo as gaivotas, bicando os despojos e detritos das águas salgadas ou, simplesmente, assenhoreando-se da área a descoberto.
Uma vez, muitos anos atrás, em A-ver-o-Mar, encontrei nesse espaço o crâneo branco e limpo de uma gaivota, que tinha uma forma quase daliniana. Talvez por isso, apanhei o despojo e trouxe-o para casa. Compacta de ossatura, a caveira pouco tempo se manteve íntegra. Os ossos desuniram-se em poucos anos.
E as peças soltas deixaram de configurar esse puzzle antigo de uma harmonia passada, extinta.

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