Como um som puro, ou um sistema melódico de sons puros, no meio de ruídos, assim um cristal, uma flor, uma concha, destacam-se da desordem ordinária, do conjunto das coisas sensíveis. São, para nós, objectos privilegiados, mais inteligíveis à vista, ainda que mais misteriosos de reflexão do que todos os outros que vemos indistintamente. Eles propõem-nos, estranhamente ligados, as ideias da ordem e da fantasia, da invenção e da necessidade, da lei e da excepção; e, neles, nós encontramos, ao mesmo tempo, na sua aparência, a face de uma intenção e de uma acção que os desenvolveu e lhes deu forma semelhante àquilo que os homens sabem fazer, mas também a evidência de procedimentos que não estão ao nosso alcance, impenetravelmente.
Paul Valéry, in Variété V (pg. 11).
Nota: iniciamos, hoje, a selecção e tradução de excertos do quinto e último volume desta Obra de Paul Valéry.
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