quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Esboço matinal sobre a paisagem


Na luz coada e fresca da manhã, os telhados descem pousados, deslizantes para o rio, que mais parece uma planície metálica de gelo cinzento, espelhado para um céu nublado de gretas e sulcos luminosos. Duas pombas negras, sobre as telhas defronte, em ângulo recto, uma de Leste para Oeste, descendente, a outra, de Sul para Norte, horizontal nos seus passinhos miudos, acabam por cruzar-se. Como me vem, de longe, esse geométrico poema (Aldeia) de Manuel da Fonseca (1911-1993), que me faz lembrar um quadro agreste de Alvarez (1906-1942).

Nove casas
duas ruas
ao meio das ruas
um largo
no meio do largo
um poço de água fria. Tudo isto tão parado
e o céu tão baixo que quando alguém grita para longe
um nome familiar,
se assustam pombos bravos
e acordam ecos
no descampado.

8 comentários:

  1. O dia por aqui não promete. E está frio, ao contrário de ontem que até à noite se andava muito bem na rua.
    Gostei do post.
    Bom dia!

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    1. Obrigado.
      Não há dúvida, chegou o frio...
      Um bom dia, mesmo que nublado!..:-)

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    1. Creio que alguns poemas de Manuel da Fonseca venceram o tempo..:-)
      Bom dia!

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  3. Sem dúvida, dois belos poemas. Gostei particularmente do seu texto. Muito, mesmo (sobretudo, da "planície metálica de gelo cinzento" - nunca tinha associado estas duas ideias, pois, na minha cabeça, as planícies são sempre douradas).

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    1. Obrigado, Sandra.
      O vagar e o tempo permitem uma atenção maior a tudo aquilo que nos rodeia. Depois, é só traduzi-lo em palavras que permitam os outros percebê-lo..:-)

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