Na luz coada e fresca da manhã, os telhados descem pousados, deslizantes para o rio, que mais parece uma planície metálica de gelo cinzento, espelhado para um céu nublado de gretas e sulcos luminosos. Duas pombas negras, sobre as telhas defronte, em ângulo recto, uma de Leste para Oeste, descendente, a outra, de Sul para Norte, horizontal nos seus passinhos miudos, acabam por cruzar-se. Como me vem, de longe, esse geométrico poema (Aldeia) de Manuel da Fonseca (1911-1993), que me faz lembrar um quadro agreste de Alvarez (1906-1942).
Nove casas
duas ruas
ao meio das ruas
um largo
no meio do largo
um poço de água fria. Tudo isto tão parado
e o céu tão baixo que quando alguém grita para longe
um nome familiar,
se assustam pombos bravos
e acordam ecos
no descampado.
O dia por aqui não promete. E está frio, ao contrário de ontem que até à noite se andava muito bem na rua.
ResponderEliminarGostei do post.
Bom dia!
Obrigado.
EliminarNão há dúvida, chegou o frio...
Um bom dia, mesmo que nublado!..:-)
Belo poema. Bom dia!
ResponderEliminarCreio que alguns poemas de Manuel da Fonseca venceram o tempo..:-)
EliminarBom dia!
Dois belos poemas.
ResponderEliminarDuplamente grato...
EliminarSem dúvida, dois belos poemas. Gostei particularmente do seu texto. Muito, mesmo (sobretudo, da "planície metálica de gelo cinzento" - nunca tinha associado estas duas ideias, pois, na minha cabeça, as planícies são sempre douradas).
ResponderEliminarObrigado, Sandra.
EliminarO vagar e o tempo permitem uma atenção maior a tudo aquilo que nos rodeia. Depois, é só traduzi-lo em palavras que permitam os outros percebê-lo..:-)