Espantalho
Já na minha alma pesavam de tal modo os mortos futuros
que eu não podia dar um passo sem que as pedras revelassem as suas entranhas.
Que gritam e defendem essas roupas retorcidas por exalações?
Sangram olhos de machos atravessados de arrepios.
O céu torna-se impossível entre tantas campas alagadas de setas corrompidas.
Para onde ir com as ânsias dos que vão morrer?
A noite desmorona-se por um excesso de equipagem clandestina.
Louvai o choque eléctrico que fulmina os bandos e os rebanhos.
Um homem e uma vaca perdidos.
Que novas desventuras esperam as folhas, este outono?
Minha alma não suporta já tanta carga sem destino.
O sonho para resguardar-se das chuvas procura uma cabana.
Pela noite de ontem já uivaram as lobas.
Que espero rodeado de mortos no gume de uma aurora indecisa?
Rafael Alberti, in Sermones y Moradas (1929-1930).
Parabéns pela tradução.
ResponderEliminarMuito obrigado, MR.
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