quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Divagações 14


Gosto de descer a Avenida das Azáleas, ao fim da tarde, enquanto a luz não morre de todo, por entre o intervalo das vivendas. Andar a pé, dá para ver e conhecer melhor o mundo.
A avenida vem duma estrada principal, mas tem muito recato. E silêncio, a princípio. Há muito poucas pessoas no passeio, e raros automóveis a atravessam.
Mas sobram rescendentes aromas naturais, e a visão soberana de arbustos e pequenas árvores exóticas, nos jardins das casas, dá um particular encanto a esta travessia. A avenida não é muito comprida.
Respiro esta pequena felicidade nos primeiros vinte metros, e talvez  nos últimos dez, porque nos cerca de 70 metros intermédios, uma cascata sucessiva de ladridos agressivos, insolentes e dissonantes, vinda das vivendas, destrói e interrompe a quietude da Avenida das Azáleas - os cães de guarda dos donos ausentes.
Donde concluo, com ironia para evitar a mágoa, que a insegurança dá cabo da poesia.

4 comentários:

  1. Um post com um encanto «very british» :-)

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  2. Venho do Prosimetron.
    O silêncio é um estádio que aprecio até porque nunca há um silêncio absoluto se, felizmente, tivermos audição.
    Gostei do seu texto.

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