O coelho era português, e manso, as abóboras de Constância e o vinho tinto duriense (d'Eça 2009), de Sabrosa, que não tendo pujança excessiva, compensava com uma elegância inesperada e acolhedora nos seus 13,5º graus aveludados, já. Marcado, absolutamente, pelo aroma e sabor inconfundíveis da Touriga Nacional - eflúvios de violeta cálida, envolvida em fumos de tabaco e chocolate. A garrafa foi toda, e quase pedia mais...
O coelho foi aconchegado e assado no forno (como manda o "Chico Elias", de Tomar), no interior de uma cucurbitácia média, mas nutrida. Para não ficar sozinho fizeram-lhe a cama e rodearam-no de aipo, cebola, um cheirinho de salsa, pequenas tiras de pimento rútilo, algumas rodelas de chouriço, três ou quatro gotas de piri-piri. No útero róseo-alaranjado da abóbora, quentinho, adormeceu - e fez-se.
Entretanto, as cabaças pequenas e mais jovens, que não chegaram a ser cantil de romeiros e peregrinos, secas, ou mera decoração de mesa, foram sofrendo tratos de polé, em vida e sumarentas, até adquirirem uma consistência de polme maleável, poroso e amarelado - daí, talvez, o nome de abóboras manteiga. Fritas se transformaram em "bolinhos de jerimu", com polvilhos leves de fino açúcar e canela. Puro esplendor divino, como manã bíblico, que se desfazia na boca.
Gastronómico domingo, digno de deuses!
Gastronómico domingo, digno de deuses!
A HMJ, pela confecção perfeita; a AVP, pela sábia indicação do vinho d'Eça 2009, tinto.
Grande sorte!
ResponderEliminarÉ uma pena não haver transvazes, nem trasfegas, por causa da distância...Vontade não nos faltava.
ResponderEliminarComo uma cama dessas como é que o coelho não havia de estar delicioso?
ResponderEliminarHá anos que penso em fazer um coelho na abóbora, mas nunca fiz.
Vou experimentar fazer os bolinhos de jerimu no Natal.
Força, MR!
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