segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Divagações 15 (com algum cinismo e aduares)


Vai voltar a melancolia à portuguesa, essa "apagada e vil tristeza" de que falava Camões. E que vem sempre de cima: ou da ausência do sol, ou de quem nos governa. Hoje, ainda a luz é intensa, embora o azul vá desmaiando, pouco a pouco.
De uma forma visual e epidérmica, o sol da tarde ainda inebria e nos ajuda num optimismo fátuo, infundado, superficial que quase nos faz esquecer o futuro, e tudo aquilo que aí vem. Os escuros cerrados de Columbano, a negrura intensa de Raul Brandão, a loucura controlada de Herberto Helder. A cegante claridade de Teixeira Gomes apenas vem para comprovar a regra, por excepção.
Os "indignados" portugueses terão hoje a sua última oportunidade de serem notícia e aparecerem na Tv. Poderão ainda montar as suas tendas frágeis, o seu aduar, na praça mediática, e dizer uma última palavra, antes de voltar a chover. A maioria, creio, até Março, voltará à comodidade e conforto da casa paterna (ou materna), aos jogos de computador e ao "facebook", hibernando até o sol reaparecer. Irão crescendo, é certo, e talvez descubram objectivos mais concretos, solidários e pragmáticos. As revoluções, normalmente, fazem-se pela Primavera, ou até ao princípio do Outono. O Inverno não é estação propícia.

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