Ao princípio são os lagares, onde fruta diversa (cereja, cidrão, calondro, casca de laranja, figo...) é acompanhada por pasteleiros encartados que dela tratam, adicionando-lhe água e açúcar, e a remexem profissional e semanalmente. Retirada e enxugada, esta fruta dita "escorrida" (e não cristalizada, que é um outro tipo), bem como a fruta seca laminada (amêndoas, pinhões, nozes e, às vezes, avelãs) associada às uvas passas, serão o elemento decorativo e interior, imprescindível, da massa do célebre Bolo-rei. A isto se acrescentava uma fava embrulhada, antigamente, que, dizia-se, trazia sorte a quem coubesse, na fatia de brinde, do Bolo. As pastelarias de referência fabricam-no, tradicionalmente, desde o feriado de 5 de Outubro, até ao Carnaval. Aos fins-de-semana, mas com extrema intensidade nos dias 24 e 31 de Dezembro, e no dia de Reis (6 de Janeiro).
O Bolo-rei inspira-se, dizem, na "Galette des Rois", francesa, e começou a fabricar-se em Portugal, em data incerta do séc. XIX, provavelmente, na Confeitaria Nacional, de Lisboa, propagando-se gradualmente por todo o país. É hábito respeitado, normalmente, ser o Pasteleiro-chefe com o cotovelo a fazer o buraco central, em cada Bolo-rei. Com o advento da República quiseram chamar-lhe "Bolo da República", mas a moda não pegou e, por isso, sempre manteve o nome inicial. Pelo Natal e no Ano Novo, bem como no dia de Reis, o Bolo-rei era acompanhado por Vinho Fino (Vinho do Porto particular), nas mesas onde as famílias se reuniam, festivamente.
Ora, ontem, sábado 22/10, cá em casa iniciou-se a "saison", com o primeiro Bolo-rei. Que estava muito bom. Fiz uma pequena alteração ao que é tradicional: em vez do habitual Vinho do Porto, na fotografia, dei-lhe por companheiro um Vinho de Carcavelos, dos antigos e raros, da Quinta do Barão, entre Oeiras e Carcavelos. É um vinho mais seco e data do início dos anos 70, do século passado. Posso garantir que Willy Brandt o apreciava, enormemente, porque tinha um admirador português (Miguel Cerqueira) que, todos os anos, lhe enviava uma caixa de 6 garrafas deste vinho, para Berlim, através de uma família alemã de apelido Kirchwitz, que vinha passar Agosto e Setembro, em Esposende. E Willy Brandt agradecia. Só não tinha era o Bolo-rei português para acompanhar...
Gostei deste post e de saber do gosto que Willy Brandt - pessoa que muito, muito admiro - tinha por vinho de Carcavelos.
ResponderEliminarAinda não inaugurei a estação cá por casa, mas se estas chuvas continuarem talvez o faça no próximo fim-de-semana.
Tenho uma foto de Willy Brandt numa estante, aqui nas minhas costas.
ResponderEliminarEra no tempo em que a maioria dos políticos eurupeus, sendo de primeira água, eram admirados e respeitados. E tinham clarividência, coragem cívica e solidariedade.
ResponderEliminarQue saudades, APS! A Europa estaria diferente.
ResponderEliminarMas abri para dizer que ainda não provei bolo-rei este ano.
Estou consigo, Miss Tolstoi!
ResponderEliminarE faço votos para que o seu primeiro Bolo-rei, deste ano, esteja tão bom como o nosso.