O segredo é querer pouco. Mesmo que o alto de Palmela se apague, ao longe, na neblina.
As boas notícias até parece que vêm do rio, como lâminas nocturnas que, embora frias, trazem alegria. Chega-se a um ponto em que, da margem, o que podemos e queremos levar é unicamente o essencial. E não ficarmos sozinhos, com a memória toda a pesar na travessia. Sem ninguém que carregue um pouco dela, no seu peso mais íntimo, partilhando os desastres, as alegrias, as vergonhas e os triunfos efémeros do tempo. O Seixal, o Barreiro e o Montijo tremulam de luzes muito frágeis. O Tejo é uma mancha muito escura e, hoje, não será o Letes definitivo. Caronte afastou-se na sua barca, com o negócio perdido.
O segredo é querer muito pouco, cada vez menos. Só o essencial.
para o António, afectuosamente.
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