Não suporto, nem aceito o silêncio caridoso e cristão que se cria, normalmente, em Portugal, à volta das lentas agonias. Bastou-me a pesada cortina de ferro que se abateu sobre a figura de Eugénio de Andrade, nos últimos anos de vida, remetido à imobilidade física de uma cama. Ele que escrevera dos mais belos poemas de amor que se fizeram em Portugal, para sempre. Não teria sido possível relembrá-lo, de vez em quando, publicando um poema ou um texto em prosa? Não, calamento absoluto, nos media. Mas quando ele morreu, foi uma autêntica girândola de elogios à obra, nos jornais e revistas portugueses, com publicação de inéditos, testemunhos, citações... É atávica e hipócrita esta atitude cristã portuguesa. Como também o uso estúpido da expressão, ainda frequentemente utilizada de: "...após doença prolongada..."
Fartou-me também, já mais recente, a rasura do nome de Júlio Resende, pela fragilidade dos seus últimos anos, e a omissão do Pintor portuense no dia-a-dia noticioso. Felizmente, falei dele, aqui, quando completou os seus 93 anos. Não faz mal lembrar - é bom e é preciso. Pesa-me, também e muito, o esquecimento deliberado e cristianíssimo que fazem sobre Óscar Lopes, espírito agudíssimo e crítico, e co-autor duma belíssima e pertinente História da Literatura Portuguesa. E Óscar Lopes está vivo.
Nos meus tempos adolescentes fui leitor atento de Agustina, quer dos seus romances, quer da sua coluna "oracular" e semanal no "Diário Popular"; hoje não serei o mesmo incondicional, que fui, da sua obra, mas respeito o que escreveu e quero lembrá-la. Agustina Bessa-Luís completou hoje 89 anos. Quem o disse?
O Publico (em papel) publicou um texto inédito, escrito quando era directora do D. Maria II. E, tanto quanto me parece, foi tudo...
ResponderEliminarÉ verdade, no P2. Os restantes, ou se esqueceram, ou eram cristianíssimos..:-(
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