segunda-feira, 12 de julho de 2021

Arquitectura e poesia, por palavras de Miguel de Unamuno

 

A catedral de León consegue contemplar-se de uma única mirada e pode compreender-se de imediato. É de uma suprema simplicidade e, por isso, de uma enorme elegância. Poderia afirmar-se que nela se resolveu o problema arquitectónico, em simultâneo da engenharia e da arte, ao ocupar o maior espaço com a menor quantidade de pedra. Daí a sua aérea ligeireza com aquelas grandes aberturas revestidas de vitrais com figurações polícromas, por onde a luz se matiza e alegra através de diversas cores.




Isso me sugeriu uma reflexão associada ou metafórica aplicada à arte da poesia e, em geral, à literatura. E é assim que como esta genuína arte gótica de arquitectura foi cobrindo amplos espaços com pouca pedra, sem mais que bem talhar e agrupar bem, também a poesia se há-de cobrir e encerrar-se no maior espaço ideal, expressando-se com o mais amplo sentido possível de representação, através do menor número de palavras...


Miguel de Unamuno (1864-1936), in Andanzas y Visiones Españolas (pg. 78).

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Unamuno tem uma escrita muito límpida e sugestiva.
      Boa tarde.

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  2. Gosto muito deste Miguel que, segundo consta, foi um dos dois Miguéis ibéricos a inspirarem o Dr. Adolfo Rocha a mudar de nome.
    Gostava muito de ler este livro, talvez consiga encontrá-lo na biblioteca.
    Bom dia!

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