sábado, 16 de julho de 2011

Vinho em Portugal, no século XVIII


Já aqui falei do livro "Relação do Reino de Portugal - 1701", editado pela BNP (2007), baseado num manuscrito da British Library, e transcrito sob a coordenação de Maria Leonor Machado de Sousa. É uma obra interessantíssima e, pelo pitoresco e observação minimalista dos costumes portugueses de antanho, não fica nada a dever às clássicas, canónicas e mais celebradas obras (pelo menos, das que eu conheço) de Estrangeiros sobre Portugal que são sempre muito cobiçadas pelos bibliófilos portugueses nos alfarrabistas. E muito disputadas em leilões. Hoje, vou transcrever da obra citada, um pequeno excerto sobre a produção de vinho, na região de Lisboa. Curiosamente, e pouco antes deste texto, o autor referia que da margem norte do Tejo, eram preferíveis os vinhos tintos, e a sul do Tejo eram melhores os brancos. Segue, então:
"...Para fazerem Vinho põem as Uvas numa grande Cisterna de Pedra, de onde as passam para outra, menor, e então o Vinho é colocado em grandes Cascos, que levam quatro ou cinco Tonéis. Pisam as Uvas de uma maneira muito desagradável e, quando já não sai mais nenhum sumo da pisa, eles espremem o que podem da seguinte maneira: põem os cascos todos numa pilha e atam-nos com corda de sisal para evitar que se espalhem, depois colocam Pranchas de madeira sobre eles, e com recurso a uma grande Pedra, extraem ainda mais sumo delas; depois do que deitam água para dentro dos cascos e fazem um licor a que chamam agua-pé, que foi o que provei. Era pior do que Cerveja Fraca. Quando o vinho é levado para esses grandes Cascos, se se trata de vinho Branco o trabalho está feito, mas se é vinho Tinto, põem o cangaço da Uva lá dentro para que fermente e passe a ter mais cor, pois a cor intensa do vinho Tinto é conseguida dessa maneira. ..."

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