sábado, 30 de julho de 2011

E. M. Cioran e o Tabaco


"...Terei falado aqui da minha intoxicação pelo tabaco? Dizia eu há dois meses a um cirurgião australiano, que veio jantar a nossa casa, que eu tinha sido um grande fumador e que era impossível tomar a mais pequena decisão sem acender um cigarro, e esta dependência total, esta escravatura, acabaram por se me tornarem intoleráveis. Quando deixei de fumar, foi uma total libertação.
O cirurgião que parecia visivelmente interessado por aquilo que eu dizia, contou-me que lhe tinha acontecido o mesmo que a mim, e que uma vez, no meio de uma operação muito grave, parou bruscamente, não conseguindo decidir-se em que sentido devia prosseguir. Abandonou a sala de operações e foi fumar um cigarro, no exterior. Depois, sem dificuldade, soube aquilo que deveria fazer, tomou a decisão que se lhe revelou correcta uma vez que a operação, contra todos os receios, foi bem sucedida.
Depois que eu deixei de fumar, sinto-me menos capaz de afrontar os problemas da vida prática (sem contar com a baixa de rendimento intelectual que se seguiu!), mas finalmente não tenho mais o sentimento de me sentir dependente de um veneno, de um dono impiedoso."
E. M. Cioran, in "Cahiers - 1952/1972" (pg. 596). 

3 comentários:

  1. Interromper uam operação para ir fumar um cigarro...?????????????????????

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  2. Também fiquei perplexo, MR, com a atitude do médico australiano...a menos que ele tivesse bons assistentes que segurassem a situação, no entretanto.

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  3. Devia ter, dado que a operação foi bem sucedida.

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