segunda-feira, 18 de julho de 2011

A imensa minoria


O autor da frase usada no título deste poste foi Juan Ramón Jimenez, que a utilizou, como dedicatória abstracta (embora, objectivamente), nos últimos livros que publicou. A frase foi usada, algumas vezes, por Eduardo Prado Coelho, nalguns escritos e crónicas, mas creio que nunca lhe apontou a autoria, alheia. Por isso, e antes de mais: "o seu a seu dono".
Esta frase, especialmente aplicada por Jimenez aos seus leitores de poesia, veio-me à memória num recente colóquio, sobre leitura, a que assisti. Falou-se de literatura "light", de poesia em geral, dos livros(-tijolo - H. N. dixit), dos sucessos mediáticos  e da venda das obras (muitas vezes, más) dos pivots da Tv e outras celebridades efémeras que passeiam a sua juventude (breve, mas bem aproveitada), pelas revistas róseas...
Pragmática e objectivamente, não podemos ter a veleidade de esperar que só a boa literatura, a boa música, a boa pintura prevaleçam. O vulgo (e não me intrepretem como elitista, por favor!) continuará a gostar de música pimba, sempre, e da pintura "à Millet", com o menino de lágrima ao canto do olho, que é um best-seller nas feiras populares, por todo o país...
Se nos anos 60/70 havia uma crítica rigorosa (embora, politicamente, nem sempre isenta) que destruía, argumentativa e racionalmente, a má prosa e a má poesia, hoje, infeliz e francamente, crítica literária é coisa que não existe. E a que se faz, sob esse nome, é uma mera aparência de recensão crítica, impressionista e no seu pior sentido etimológico. Não há guias que informem: é "todos ao molho e fé em deus!" O Tempo dirá...
Por isso é que tanta indigência artística chega aos tops.
Mas mesmo em tempos mais esclarecidos e racionais, também havia casos inexplicáveis. Um dos melhores livros de Poesia lírica, do século passado, "As Mãos e os Frutos" de Eugénio de Andrade, por exemplo, publicado em 1948, demorou 18 anos a vender-se e a ficar esgotado.. E não teve uma grande tiragem. Daí fazer todo o sentido a epígrafe sucinta de Juan Ramón Jimenez: " A la inmensa minoría". E, nos tempos que correm, ainda mais.

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