domingo, 6 de dezembro de 2015

A par e passo 154


Eis pois que eu me divertia de novo com sílabas e imagens, semelhanças e contrastes. As formas e as palavras que convêm à poesia tornavam-se sensíveis e frequentes no meu espírito, e eu tinha-me esquecido, por isto ou por aquilo, de esperar por estes agrupamentos notáveis dos termos que nos oferecem, subitamente, uma feliz composição, em si mesmo, na corrente impura das coisas mentais. Como um conjunto definido se precipita de uma miscelânea, assim como alguma figura se adivinha e destaca da desordem, no flutuar comum do nosso borbulhar interior.
É um som puro que soa pelo meio dos ruídos. É um fragmento perfeitamente executado para um edifício inexistente. É o pressentimento de um diamante que brota da massa informe da «terra azul»: instante infinitamente mais precioso do que qualquer outro, e que diversas circunstâncias produziram.

Paul Valéry, in Variété V (pg. 113).

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