quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Recuperado de um moleskine (19)


Uma das minhas questões essenciais, talvez a mais persistente, ao longo da vida, sempre foi a Justiça. E os tempos que correm não lhe são favoráveis pelas debilidades humanas e deficiências, às vezes ostensivas, de quem a tem personificado na nossa terra.
Por outro lado é atávico e de bom tom apresentá-la, iconograficamente, de olhos vendados, o que sempre me pareceu incongruente. A Justiça, do meu ponto de vista, tem de enfrentar a Verdade, de olhos abertos. Assim o entendeu, por certo, o escultor canadiano Walter Seymour (1876-1955), ao representá-las muito próximas, uma da outra, em Otava.


4 comentários:

  1. Para a justiça olhar a verdade de frente é preciso coragem. E isso escasseia. E não é só nos tribunais, mas também no quotidiano.
    Gostei imenso deste post e desconhecia as esculturas. Muito interessantes!
    Esta sua reflexão lembrou-me aquela máxima de Edmund Burke, segundo a qual, "A única coisa necessária para o triunfo do mal, é que os bons nada façam."
    Revolta-me imenso, por exemplo, que na observância de um comportamento danoso, as pessoas baixem a cabeça cobardemente. Nos casos de violência doméstica, por exemplo, aqueles que sabendo,actuam como se nada fosse, para evitar problemas, como eles dizem. Eu testemunharia logo em Tribunal, devo dizer, mesmo que me arriscasse "a levar" também. A falta de justiça leva a que o ofendido ou abusado se sinta muito só e desamparado. E isso não é nada bom e justo...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sendo embora de cariz clássico, a obra de Seymour é muito interessante, na minha opinião.
      Quanto à Justiça. Eu creio que ela nunca atravessou um período tão controverso como agora - nestes últimos 40 anos de democracia -, enredada que está em múltiplas redes e complexos interesses. E vai ser difícil, Sandra, a Justiça ( na sua componente humana) retomar a dignidade do seu lugar de isenção. Pouco poderemos fazer, mas é bom, no entanto, que não fiquemos calados.

      Eliminar
  2. Pode ser que se comece a discutir a Justiça e que algo melhore. Tenho esperança.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Deus a ouça, mas também alguma espectativa de que algumas coisas melhorem...

      Eliminar