segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Perdido


Perdido é um conceito amplo. De largo espectro, raramente trágico. Aqui há uns anos, perdi-me em Colónia (Köln), mas mesmo sem pedir informações, consegui reencontrar-me. Não foi grave, nem muito demorado.
Mas hoje foi diferente e eu apenas servi de mera bússola  na reorientação de um ser humano. Conheço-o de vista, tem aspecto mais ou menos cuidado, barba pequena, andar concentrado. A mulher, talvez octogenária, é que já não parece deste mundo...
Pois, hoje de manhã, quando despejava lixo no contentor dos papéis e cartão, ouvi chamar. Olhei e vi, numa janela dum rés-do-chão, o tal sujeito. Fiquei, então, espectante e ele perguntou-me, bem alto: "Que dia é hoje?" Passada a minha surpresa, respondi-lhe: "É Segunda-feira!" E vendo que não era suficiente, acrescentei: "29 de Agosto."

6 comentários:

  1. Gosto da imagem. Nós e o tempo.
    Um pouco insólita a pergunta, mas com o passar dos anos,
    tudo pode acontecer, até nem sabermos em que dia estamos.
    E eu por mim falo.
    Boa tarde.

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    1. A situação, não sendo dramática, foi pungente pelo contexto.
      É certo que, por vezes, eu também perco a noção do dia em que estou, mas rapidamente a recupero, sem recorrer a outros.
      Jornais, calendários, net permitem situar-nos, normalmente.
      Havia por ali também isolamento e solidão, para ter de recorrer a um estranho, que eu era.
      Uma boa noite!

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  2. Acrescento ao vosso diálogo, mercê da omnipresença dos calendários e relógios, nos computadores, telemóveis, automóveis, etc., o relógio está a transitar de objecto utilitário para objecto ornamentário, curiosamente sendo o tempo, ou melhor a sensação do passar do mesmo, um fenómeno ou medida psicológica, acontece-me sempre quando estou de férias, perder a noção do dia em que me encontro, ou seja o modo de vida altera a percepção do tempo.
    Saudações

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    1. É verdade, de objecto imprescindível e útil, e até símbolo freudiano de morte ("Morangos Silvestres", de Bergman), o relógio perdeu importância, funcionando como objecto decorativo e acessório.
      Pois, todos já experimentámos essa insensibilidade ao tempo, mas na velhice essa perda de referência acaba por ser mais grave.

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  3. Pois eu também em férias perco muitas vezes a noção do dia da semana e do dia do mês.
    Um dia em Paris, três prosimetronistas, guiados por um que é muito orientado, mas estava com umas champanholas. Tínhamos jantado em casa de amigos, e alta noite estávamos a ver que não saíamos da Place de la Republique nem do boulevard Richard Lenoir. Volta e meia lá voltávamos à Republique e ao boulevard Richard Lenoir. E estava tão escuro que não conseguíamos ver o mapa.
    Uma noite também me perdi (mais ou menos) na avenida Andrássy, em Budapeste. Mas aqui, també não conseguia ler os topónimos das ruas e ninguém me entendia, de modo que resolvi andar a avenida toda (que é bastante grande) para um lado, na esperança que estivesse a andar em direção ao rio. Mas não estava, pelo que depois tive de fazê-la toda em sentido contrário. Já tinha andado muito e estava um bocado esfanicada.
    Corro as cidades todas, mas preciso de um mapa. Sem mapa é uma tragédia. Já estive numa cidade (não me lembro qual) em que me deram um mapa invertido. :-)
    Bom dia!

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    1. Eu arriscaria dizer que talvez seja mais cómodo, e reparável, perdermo-nos no tempo do que no espaço (físico, geográfico), até porque sou mau em localizações e na noção das dimensões.
      Alguns pesadelos, em sonho, começam por nos sentirmos num lugar estranho, por vezes hostil, e perdidos.
      No Porto já nos aconteceu, de automóvel, andarmos às voltas e virmos dar sempre à Av. dos Aliados, quando queríamos ir para a Av. da Boavista..:-)
      Boa tarde!

      P.S.: essa do "mapa invertido" tem que se lhe diga..:-))

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