quinta-feira, 15 de março de 2018

Casamentos felizes


Nem sempre cinema e literatura casam bem. E há, por vezes, alguma desproporção entre uma obra literária célebre, que foi adaptada ao cinema, e o filme realizado. Acontece que, normalmente, existe um certo desequilíbrio entre as duas formas de Arte, pese embora a força impressiva das imagens de um filme, em confronto com o poder (menor?) das palavras de um romance, conto ou novela. Para citar Camilo, nem sempre há casamentos felizes. Do que li e vi, não consigo, no balanço de memória, encontrar Doze Casamentos Felizes, como no romance do Escritor. No meu cotejo, dou por fé, no entanto, 9 adaptações primorosas de literatura ao cinema. Cronologicamente, aqui ficam, com referência aos respectivos autores e datas dos filmes:

- "À beira do abismo" (The Big Sleep), de Raymond Chandler - Howard Hawks (1948).
- "O Leopardo", de Giuseppe Tomasi di Lampedusa - Luchino Visconti (1963).
- "O Doutor Jivago",  de Boris Pasternak - David Lean (1965). 
- "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury - François Truffaut (1966).
- "2001 - Odisseia no Espaço", de Arthur C. Clarke - Stanley Kubrick (1968).
- "Morte em Veneza", de Thomas Mann - Luchino Visconti (1971).
- "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco - Manoel de Oliveira (1978).
- "The Dead", de James Joyce - John Huston (1987).
- "The End of the Affair", de Graham Greene - Neil Jordan (1999).

Terei esquecido alguma geminação equilibrada? É possível. E convém acrescentar a limitação das minhas leituras e dos filmes que tive ocasão de ver. Para não falar do gosto pessoal. Sempre subjectivo.

para Maria Franco, e por causa de um seu comentário (ao poste anterior), aqui no Arpose...

4 comentários:

  1. A falta de memória contribui ao longo do tempo para
    apagar muito do que lemos ou vimos. Na diferença entre
    um livro e um filme apenas o fio condutor da história
    me parece o mais importante. A recriação feita por um
    realizador será sempre um pouco pessoal. Dos filmes que
    citou vi a maior parte deles. Alguns, obras primas do cinema.
    E é mais fácil para mim lembrar-me das cenas do filme, do que daquilo
    que li no livro. Vai longa a minha prosa mas acho que resumo,
    voltando ao que disse no início, a memória vai ficando cada
    vez mais distante. E agradeço este poste. Tenha uma boa tarde.

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    1. Se a minha memória retém (nalguns casos de forma um pouco caótica) imagens de vários filmes, poucos excertos (e muito curtos de extensão) conservo de obras de escritores.
      Também concordo que as adaptações devem ter alguma liberdade, embora perservando o essencial da ficção. Lembro-me de queixas de Agustina sobre a "infidelidade" de Manoel de Oliveira, realizador que, aliás, seguiu, minuciosamente, Camilo, no "Amor de Perdição".
      Com estima, lhe desejo uma boa noite.

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  2. Ui... Há tantos. No meu top, não esqueceria meia dúzia de casos em que a matéria literária, porventura menos brilhante, foi elevada aos píncaros pelo respetivo filme, como...

    Vladimir Nabokov/ Stanley Kubrick: Lolita (1962).
    Mario Puzo/ Francis Coppola: O Padrinho (1972).
    Philip K. Dick/ Ridley Scott: Blade Runner (1982).
    Kazuo Ishiguro/ James Ivory: Os despojos do dia (1993).

    Haverá muitos outros, de que não me lembro, ou não li/não vi.
    Não sou muito de filmes. A minha teoria é que um grande livro pode dar um grande filme, desde que adaptado e realizado de forma competente. Mas um mau livro (ou melhor, uma má história) nem com um génio do cinema dá um bom filme.

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    1. Haveria...
      Dos 4 que refere, vi 3 em filme, mas não li os livros respectivos.
      Dos que eu referi, Faulkner terá dado uma boa ajuda a Hawks.
      E, recentemente, referem também a importância de Zweig (que livro?, não sei...) no filme de Wes Anderson, "O Grande Hotel Budapeste".

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