domingo, 29 de maio de 2011

Mercearias Finas 32 : Vinhos velhos


As nuvens vinham do Sul, magníficas, opacas e velozes, algumas afogueadas, quase rubras, outras de um azul célere que, ao passar, ia ficando cinzento muito escuro. Todas iam para Norte com o vento que me esfriava, na varanda a Leste, o Chardonnay da Quinta de Cidrô. Viera de Trás-os-Montes, fora até França para obter uma medalha de bronze, em 2005, e estava agora a acabar, de novo em Portugal, um pouco velho, em Maio de 2011, bendito. Para ser franco, este vinho branco da Real Companhia Velha, já conhecera melhores dias, mas ainda se comportava condignamente. Guardara uma nobreza de carácter, um frutado muito personalizado e deixava, na boca, um prolongado sabor amendoado que não era doce, mas comungava, de memória, com tempos felizes de juventude. Entenda quem souber...
O "aladino", entretanto, abriu os olhos ensonados às 21,03, ainda estremunhado, mas decidido a despertar para a noite; todavia o irmão pequeno (que HMJ comprou, há dias), o "pirilampo" só acordou mais tarde, quase 10 minutos depois - cada um é que sabe da sua própria noite... E foi aí que me lembrei do meu amigo E. S. e do primeiro Chablis que me passou pelo "estreito". Anos 70, de certeza, e pós-PREC. Até porque o guardei uns 3 ou 4 anos, depois do meu amigo mo ter oferecido. Nunca lhe perguntei, até porque era uma boa colheita, mas suspeito que ele o fanou da esplêndida adega do Tio, cavalheiro abonado e baixinho, que morava em Cascais. Devo confessar que, quando abri aquele mavioso Chablis, fiquei convertido para sempre. E foi assim que provei o primeiro monocasta Chardonnay, na minha vida.
Moral da história: às vezes, se o vinho é bom, vale a pena esperarmos e guardá-lo - ajuda a reencontrarmo-nos e a convocar tempos antigos, agradáveis. Mas não é conveniente guardar vinhos brancos portugueses mais do que 5 anos. Salvo casos muito excepcionais.

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