terça-feira, 16 de outubro de 2012

Pelo Dia Mundial da Alimentação


É sabido, de quem se interessa por temas de qualidade alimentar que, por exemplo, nos iogurtes a data de validade é, de um modo geral, meramente indicativa e não científica. E, por isso, o produto tem, normalmente, mais uma semana de vida, podendo ser consumido, nesse período posterior, sem qualquer perigo para a saúde. Sabemos também que muitos frutos são rejeitados pelo não cumprimento do calibre (ou tamanho), graças a uma directiva burocrática, obnóxia e aristocrática da UE, idealizada na assepcia dos gabinetes refrigerados de Bruxelas, por rapazes que, na infância, nunca colheram fruta verde das árvores, para trincar. São os príncipes da irrealidade...
Sabemos também que, hoje em dia, muitos legumes, nas grandes superfícies, vão à noite para o lixo, por não apresentarem aquele aspecto de frescura que o cliente, habitualmente, procura. Mas estão bons e não fazem nenhum mal à saúde. Simplesmente, não preenchem os requisitos visuais de fotogenia gustativa. Por isso, os dados apontam e dizem que os povos do Ocidente e primeiro mundo têm à sua disposição cerca de 1,5 a 2 vezes mais alimentos do que seria necessário. Daí, num mundo onde há Fome, ser este desperdício, burocrático e aristocrático, simplesmente imoral e criminoso.
Tristram Stuart (1977), inglês, sendo sensível a este facto, e contando com alguns apoios, inicialmente particulares, resolveu agir. Em 2009, anunciou e organizou para a Trafalgar Square, uma gigantesca refeição frugal e grátis, para 5.000 pessoas carenciadas. Chamou-lhe "Feeding 5.000". No dia aprazado, chovia bastante, em Londres, mas os necessitados ocorreram e a comida simples (arroz de caril e legumes variados) esgotou completamente. Em 2011 repetiu esta acção, com o mesmo resultado. A 13 de Outubro, passado, terá repetido, em Paris, o "Feeding 5.000", já com o apoio de várias empresas que cederam as viandas, já quase no limite do seu prazo de validade.
O jovem Tristram Stuart não pretende substituir-se aos Governos, nem às Ong's, nem às instituições de assistência social. O seu objectivo é chamar a atenção para o desperdício que o Primeiro Mundo pratica, com leviandade, de forma imoral e criminosa. Não é pouco, convenhamos.

2 comentários:

  1. Desconhecia esta ideia e ainda bem que há pessoas com coragem para porem estes projectos em prática. É de facto lamentável que alguns deitem comida para o lixo, enquanto outros passam fome. Creio que muita da culpa vem das tais directivas europeias que forçam os supermercados e restaurantes a deitarem a comida fora, mas também da mania que há nos restaurantes, de servir pratos demasiado cheios. Quando o cliente pergunta se só dá para uma pessoa dizem que sim e muitas vezes acaba metade no lixo. Das poucas vezes que vou a restaurantes levo o resto para casa e tento comprar nos supermercados apenas as quantidades que vou usar - isto porque não gosto de comer restos, mas por vezes lá faço o sacrifício - porque detesto deitar comida fora. Longe vai o tempo em que a minha avó me dizia para comer tudo porque há crianças com fome. Na altura nem percebia e hoje digo o mesmo aos meus filhos - e eles também não percebem.

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  2. É bom que esta "sabedoria" alimentar se transmita geracionalmente. Também me lembro de minha mãe me dizer, à mesa, para não deixar "greirinhos" (de arroz) no prato. Em Portugal também tem havido, a nível regional, pequenas iniciativas parecidas com esta, mas sem grande continuidade, e de intuitos caritativos - que serão de louvar, nestes tempos de crise. Mas parece-me que são muito esporádicas e sem grandes resultados. Agora, a ideia de Stuart está a ter grande cobertura, felizmente.

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