quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Da janela do aposento 17: "Uma achega que tardava ..."



O facto de ter exercido funções educativas sobre a tutela de variadíssimos ministros, de postura, saber e capacidades muito diversas, nunca me impediu de apontar um equívoco matricial, a saber, uma famosa “Lei de Base do Sistema Educativo” que, a partir de um certo momento, passou a ser a “arma mágica” para o educação das gerações futuras.
A incompreensão perante a minha perplexidade relativamente a um dos princípios gerais nunca cessou, provocando, normalmente, um profundo silêncio que tanto encobria ignorância como ausência de reflexão. Eis o meu pomo da discórdia:
“O estado não pode atribuir-se o direito de programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas.”
Ora, sejamos francos e sérios. A acção humana não se exerce num nimbo desprovido de valores, nem fora de uma qualquer norma, ou directriz, designadamente quando se pensa na aplicação de uma Lei. Com efeito, e a partir desta “quadratura do círculo” da “Lei de Base”, todos os desvairos posteriores se compreendem.
Os leitores atentos não encontrarão, certamente, nenhuma “directriz” – seja de que espécie for – no ensino da Língua e Literatura Portuguesas, ministradas nas últimas duas décadas, nas escolas do País.
O ensino da gramática “elementar” foi substituído e enriquecido por um conhecimento lógico e pragmático que não se coaduna, frequentemente, com o nível de abstracção exigido, nem com o domínio das regras inerentes, a contrastar com a progressiva infantilização dos alunos que a sociedade “light” e o consumismo exigem.
Nesta caminhada de “aliviar” o essencial em detrimento do acessório, variado e inovador, liquidou-se uma leitura cronológica dos “clássicos” da Literatura Portuguesa, julgando que se “facilitaria” a tarefa do aluno. Contudo, e apenas para dar um exemplo, não me parece que uma leitura “em farrapos” de um Sermão de António Vieira se torne mais “digestivo”. Considero, e com toda a norma “estética, filosófica, ideológica, religiosa, política e histórica”, que esta como outras leituras dos clássicos são essenciais.
Para bom entendedor, a caminhada “acéfala e desprovida de directrizes” foi lenta, mas eficaz. Numa primeira fase, retiraram-se os “clássicos portugueses” para dar lugar à internacionalização, a chamada “literatura universal” para além da literatura dos Países Africanos e, já agora, do Brasil. Numa segunda fase, surgiu o famoso Plano Nacional de Leitura (PNL), recomendando até livros que estavam esgotados.
A medida de lançar o PNL, a não confundir com qualquer intenção de criar uma directriz, “aliviou” os alunos de leituras “chatas”, dispensando determinados professores para projectos, “painéis” e quejandos e amputando os futuros cidadãos de um conhecimento estético e cultural que dificilmente poderão recuperar.

Post de HMJ

2 comentários:

  1. E parece que acabou de recomendar para crianças, ou jovens, um livro de poemas que Alice Viera escreveu para adultos: "O que dói às aves".
    Quem o recomendou, não leu.
    Quem leu, não acreditou...

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  2. Para JAD:
    Pois é ... mas há mais "flores" na Floresta de Enganos do PNL !

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