O
facto de ter exercido funções educativas sobre a tutela de variadíssimos
ministros, de postura, saber e capacidades muito diversas, nunca me impediu de
apontar um equívoco matricial, a saber, uma famosa “Lei de Base do Sistema
Educativo” que, a partir de um certo momento, passou a ser a “arma mágica” para
o educação das gerações futuras.
A
incompreensão perante a minha perplexidade relativamente a um dos princípios
gerais nunca cessou, provocando, normalmente, um profundo silêncio que tanto
encobria ignorância como ausência de reflexão. Eis o meu pomo da discórdia:
“O
estado não pode atribuir-se o direito de programar a educação e a cultura
segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou
religiosas.”
Ora,
sejamos francos e sérios. A acção humana não se exerce num nimbo desprovido de
valores, nem fora de uma qualquer norma, ou directriz, designadamente quando se
pensa na aplicação de uma Lei. Com efeito, e a partir desta “quadratura do
círculo” da “Lei de Base”, todos os desvairos posteriores se compreendem.
Os
leitores atentos não encontrarão, certamente, nenhuma “directriz” – seja de que
espécie for – no ensino da Língua e Literatura Portuguesas, ministradas nas
últimas duas décadas, nas escolas do País.
O
ensino da gramática “elementar” foi substituído e enriquecido por um
conhecimento lógico e pragmático que não se coaduna, frequentemente, com o
nível de abstracção exigido, nem com o domínio das regras inerentes, a contrastar
com a progressiva infantilização dos alunos que a sociedade “light” e o
consumismo exigem.
Nesta
caminhada de “aliviar” o essencial em detrimento do acessório, variado e
inovador, liquidou-se uma leitura cronológica dos “clássicos” da Literatura
Portuguesa, julgando que se “facilitaria” a tarefa do aluno. Contudo, e apenas
para dar um exemplo, não me parece que uma leitura “em farrapos” de um Sermão
de António Vieira se torne mais “digestivo”. Considero, e com toda a norma
“estética, filosófica, ideológica, religiosa, política e histórica”, que esta
como outras leituras dos clássicos são essenciais.
Para
bom entendedor, a caminhada “acéfala e desprovida de directrizes” foi lenta,
mas eficaz. Numa primeira fase, retiraram-se os “clássicos portugueses” para
dar lugar à internacionalização, a chamada “literatura universal” para além da
literatura dos Países Africanos e, já agora, do Brasil. Numa segunda fase,
surgiu o famoso Plano Nacional de Leitura (PNL), recomendando até livros que
estavam esgotados.
A
medida de lançar o PNL, a não confundir com qualquer intenção de criar uma
directriz, “aliviou” os alunos de leituras “chatas”, dispensando determinados
professores para projectos, “painéis” e quejandos e amputando os futuros
cidadãos de um conhecimento estético e cultural que dificilmente poderão recuperar.
Post de HMJ
E parece que acabou de recomendar para crianças, ou jovens, um livro de poemas que Alice Viera escreveu para adultos: "O que dói às aves".
ResponderEliminarQuem o recomendou, não leu.
Quem leu, não acreditou...
Para JAD:
ResponderEliminarPois é ... mas há mais "flores" na Floresta de Enganos do PNL !