segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Alma Feminina


Cada tempo tem as suas modas, os seus exemplos e os seus ídolos. Cada época escolhe os seus ícones e consagra, nas suas aras votivas, os seus corpos e nomes. Escolhe aqueles ou aquelas que hão-de pernoitar num fugaz, sempre, panteão da memória.
A nossa época, e num meio mais ou menos lido e feminino, escolheu para culto dois nomes indeléveis: Frida Kahlo e Clarice Lispector. Numa declaração de interesses, devo dizer que são duas celebridades que não me entusiasmam. Mas - serei polémico - ao dizê-lo: interessam imenso às Mulheres do meu tempo.
Observando vários blogues femininos, verifico que a pintora mexicana e a escritora ucraniano-brasileira são um must, quase sempre referido e reverenciado. Claro que há nomes de segunda linha: Virginia Woolf, Anaïs Nin, Irene Lisboa, Josephine Baker..., mas ficam muito longe do acrisolado culto feminino de que as duas primeiras gozam.
Se eu conseguisse perceber e explicar esta devoção, teria compreendido a alma feminina. O que, modestamente confesso, não é o caso.

8 comentários:

  1. Admiro sinseridade :)
    Ass: Anónima

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  2. Não há nada como constatar a realidade.

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  3. O que vale é que há várias almas femininas. :)
    O fascínio pela Frida Kahlo até consigo perceber, embora não partilhe de um grande entusiasmo pela figura dela. Se não fossem os temas tratados, poderia ser uma boa forma para introduzir a pequenada no mundo da pintura. Muito pela cor.
    Quanto a Clarice Lispector, não entendo. Tenho muitos amigos (homens e mulheres) que gostam da Lispector.

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  4. Às vezes, Miss Tolstoi, basta lançar um pouco de milho às pombas,...que elas vem todas, umas com as outras. Ou como dizia alguém, muito estimado por mim: Anda(m) no mundo por ver andar os outros.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Não aprecio especialmente a pintura da Frida Kahlo. É um pouco "loud" demais para o meu gosto...
    Quanto à Clarice Lispector, não sei se o recente entusiasmo à volta dela será tanto pela escrita ou mais pela "persona". Depois, é fácil usar as citações da Clarice Lispector para se passar por inteligente...
    Creio que para entender/gostar da escrita da Lispector é necessário começar pelos contos. Há um de que eu gosto especialmente. Este: http://acasaimprovavel.blogspot.pt/2010/04/historias-com-galinhas.html

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  7. Em tempo, sobre a alma feminina:
    Conheço alguns "devotos" (homens, portanto) pela escrita da Clarice Lispector em particular, e pela dita "escrita feminina" em geral que, a meu ver, têm em comum com as "devotas" apenas a "devoção". Com isto quero dizer que não lhes reconheço especial autoridade ou conhecimento sobre este género de alma. O que me leva a pensar se existirá, nesta manifestação, uma particular sensibilidade à dita "alma feminina" ou se não se tratará, antes, de uma tendência para uma "forma alternativa" de gostar de algo, que afecta igualmente homens e mulheres.
    Pessoalmente sinto-me muito mais próxima da Yourcenar que, através do Imperador Adriano, afirmou, a este propósito: «Um homem que lê, ou que pensa, ou que calcula, pertence à espécie e não ao sexo; nos seus melhores momentos escapa mesmo ao humano.»

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  8. É difícil, minha cara Amiga, discretear neste espaço - que, por várias razões, impõe alguns limites. E sobre este tema sempre melindroso, a que a c. a. acrescentou alguns temas pertinentes, com caracterização bem definida.
    Sobre F. K., concordo consigo, é excessivamente exuberante e alacre, para o meu gosto estético. Além do quitche. A Clarice sempre me pareceu uma "poseuse" esperta, e só, que escrevia bem.
    Vou de par consigo na admiração por Marguerite Yourcenar e a citação, que dela faz, parece-me muito sábia. Pela minha parte, acrescento Virginia Woolf. Ambas cavaram fundo se é que a "alma" (feminina) tem fundo.
    E saúdo o seu regresso, com Amizade!

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