Óscar Lopes (1917) completou, muito recentemente (2 de Outubro), 95 anos. Silenciado por várias razões, até de saúde, está bastante esquecido e, com ele, o seu exemplar magistério na literatura e na linguística. Mas houve um tempo (anos 60/70, sobretudo) em que as suas palavras se podiam ler, semanalmente, no suplemento ou página literária de "O Comércio do Porto" onde, com isenção, sensibilidade e intuição se pronunciava sobre os livros que iam saíndo. Hoje, no entanto, com a monocultura económica a secar tudo em volta, como os eucaliptos, os suplementos literários quase desapareceram dos jornais, ou estão reduzidos ao mínimo. E os críticos literários de qualidade, e isentos, também não abundam.
Mas não se pense que é só em Portugal - a globalização vai uniformizando tudo. Por isso, achei curiosas umas palavras de Jérome Garcin, no "Obs.", a propósito de um livro ("Le Cycliste du lundi") que recolhe antigas recensões críticas de François Nourissier (1927-2011). Diz Garcin, e passo a traduzir:
"Tudo neste livro de uma actualidade perturbante, é maravilhosamente fora de moda. Naquele tempo, com efeito, um crítico literário podia consagrar mais de 10.000 caracteres a dar-nos conta, sem urgência e sem se apressar, de um livro de um autor desconhecido; ele sentia-se menos procurador do que acompanhante; ele tinha o espírito suficientemente amplo para saúdar, com o mesmo entusiasmo, um texto que hoje se classificaria de post-moderno como também um grosso romance histórico à antiga; não punha em primeiro lugar as suas opções ideológicas, antes das questões de estética; enfim, ele obrigava-se, por cortesia, a cuidar do seu próprio estilo, lembrando assim que era um escritor, a falar sobre escritores."
Lá como cá. Por isso, e por causa de quase não haver crítica literária, é que as ervas daninhas progridem e a "literatura light" prospera...
Li com grande prazer a História da literatura portuguesa dele e de António José Saraiva.
ResponderEliminarPenso que ainda hoje é uma obra incontornável.
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