Foi,
certamente, pela mão de um “pessimismo antropológico” atribuído, em terras
lusas, aos luteranos que criei, desde cedo, uma aversão profunda àqueles
“católicos romanos”, ostensivamente caridosos e beatos e de rosto compassivo,
mas de alma desprovida de qualquer ética.
Assim,
e civicamente, ao atingir a idade própria que me permitia decidir livremente, oficializei,
administrativamente, a linha que há muito me separara dos “crentes do parecer e
de fachada”, optando por uma postura mental na defesa do “ser” e, também, do
“tempo”.
Ora,
o que me fez recordar essa opção longínqua foi um episódio – desumano e
deprimente – que presenciei, hoje, num Centro de Saúde, bem no coração de
Lisboa. Uma senhora, a caminho dos 80 anos, de aspecto frágil e com reacções
pausadas, com apresentação respeitável, pediu à funcionária que o médico lhe
passasse a receita dos seus medicamentos. Encontrando-se o médico de férias,
surgiu-se-lhe a hipótese de a receita ser passada por outro médico, demorando
ca. de 7 dias. Uma questão de prazos ... O pior estava para acontecer. Feito o
pedido, a funcionária pediu 3,00 euros pela receita a levantar no prazo de uma
semana (!). A senhora, mantendo a sua postura, disse: “não tenho esse dinheiro,
porque, passei na Caixa (Geral de Depósitos ?) e, ainda, não tenho lá a pensão
(!)” Segurei a minha carteira à espera da solução “administrativa” para o caso
e, sobretudo, para evitar uma humilhação de um ser humano carente dos cuidados
elementares. A solução foi o pagamento do valor da receita (!) no acto de
entrega. A mim, ficou-me a revolta para o resto do dia e um reencontro com o
Purgatório de Dante.
De
facto, não sei como, quando e onde, o Senhor Ministro da Saúde confessa tais
pecados – da sua responsabilidade –
escondendo os seus actos benevolentes para com as PPP’s na área da saúde.
O
episódio permitiu, no entanto, consolidar a minha opção antiga de não pertencer
a semelhante confraria de falsos “cristãos”, nem a outras. E, embora não
crente, gostava de ver algumas figuras, com actos imorais praticados ao longo
da vida, numa expiação dos seus pecados semelhante à imagem pictórica que a seguir
se reproduz.
Post de HMJ
Há tempos quando li que se pagava para o médico passar uma receita, médico que a senhora nem vai ver.
ResponderEliminarComo as pessoas com pensões baixíssimas que passaram a pagar taxas moderadoras.
Situações destas dão-nos volta ao estômago.
Para MR:
ResponderEliminarna lógica economicista, o "acto médico" de pÔr a assinatura deve corresponder a 1 minutos (= 3,00 euros). Feitas as contas, somam-se 180,00 euros por hora (!) Qualquer dia, uma consulta de 20 min. dará para pagar 60,00.
Concordo inteiramente consigo e com MR. Isto é tudo vergonhoso. E realmente não há paciência para as pessoas que só são cristãs de fachada.
ResponderEliminarO critério de isenção de taxas moderadoras em função dos agregados familiares tem de ser revisto.
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