domingo, 14 de outubro de 2012

Clássicos, qualidades e o homem comum



Diz-me quem conhece a língua, ou acordámos o facto entre nós, que o título da obra-prima do austríaco Robert Musil (1880-1942), em alemão "Der Man ohne Eigenschaften", terá sido mal traduzido para português, através de "O homem sem qualidades" (da Livros do Brasil, versão de Mário Braga). Seria mais correcto intitular-se O Homem banal, ou seja, aquele que não se distingue dos outros, que passa despercebido. Uma espécie de homem comum ou anti-herói que é, no fundo, o tema da obra de Musil.
Quanto aos heróis clássicos a questão é mais complexa. Creio, por exemplo, que toda a gente concordará no facto de Ulisses ("A Odisseia", de Homero) ser o mais popular dos heróis gregos clássicos. Ultrapassando em larga medida Ájax ou Aquiles que, apesar de tudo, têm um comportamento mais cavalheiresco. Talvez porque Ulisses fosse o homem dos mil artifícios, mais industrioso a resolver os problemas mais complicados (Polífemo, o canto das Sereias, Calipso, os pretendentes de Penélope...), através de soluções improvisadas, mas argutas. Muito de homem comum, em relação aos aristocráticos Ájax e Aquiles, que também tinham qualidades.

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