O que faz a diferença de um jornal literário inglês, como The Times Literary Supplement (TLS), em relação aos congéneres continentais, é que a sua leitura nunca é fastidiosa e as suas recensões críticas raramente estão enfeudadas às correntes da moda. Qualquer leitor não especializado, que domine minimamente o inglês, encontrará, na leitura do TLS, motivos de agrado. Por outro lado, os artigos - sempre muito variados - nunca se desprendem da realidade e do dia a dia. E, em muitas das crónicas, se encontra uma atmosfera maior ou menor de humor e ironia britânica que nos acompanha na leitura, agradavelmente. É isto que penso e que justifica que eu compre, semanalmente, o TLS.
Do último (nº 5714) e, em abono do que disse, vou "traduzir" por palavras minhas alguns excertos de 2 artigos. O primeiro, da autoria de Tom Phillips, aborda uma exposição que está patente na Royal Academy, de Londres, e começa assim:
Cada museu e instituição sabe que a palavra "ouro" no título de uma exposição fará com que as bichas se comecem a formar. "Prata" não tem o mesmo efeito sobre os potenciais visitantes, uma vez que, em conjunto e sob luz fixa, é um metal monótono, embora para alguém que frequente banquetes, antes que se apaguem os candelabros, dar-se-á conta da mágica refracção que a luz provoca nos pormenores dos talheres. O bronze, contudo, manteve-se solidamente como a metálica língua franca da grande Arte por mais de 5.000 anos, até hoje.
O segundo artigo do TLS foi escrito por David Gelber e ao abordar a publicação do Almanaque Gotha ( um misto de Bíblia e Lista telefónica para a realeza europeia; ou uma espécie de revista Hola em livro, com ambições mais altas e só para "iniciados"), refere dois episódios engraçados. No inicial, e citando Oliver Goldsmith, refere: "Conheci um príncipe germânico que tinha mais títulos do que súbditos". Finalmente: "Em pleno séc. XVIII, a Princesa de Taranto raramente pousava em casa, porque estava sempre em funerais, uma vez que era aparentada com praticamente todo o Sacro Império Germânico".
Penso que ficam aqui umas amostras do estilo do TLS. Convirá lembrar, a benefício de isenção, que o jornal literário é editado num país regido por uma monarquia...
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