Não posso inteiramente queixar-me. Havia pouca liberdade, é certo, quando eu era jovem; havia a perspectiva da guerra colonial e da morte, também. Mas havia algum bem-estar, mínimo. E, depois do 25 de Abril, abriu-se o futuro e a liberdade. Recentemente, no entanto, tudo começou a andar para trás, e grande parte dos jovens, entre os 20 e os 30 anos, já não terão grandes expectativas de felicidade, em Portugal.
Há dias, numa esplanada coberta, das Avenidas Novas, numa mesa contígua à minha, e muito próxima, vieram sentar-se dois jovens angolanos, ia eu a meio do meu Coelho à Caçador, acompanhado por um modesto tinto alentejano. Um dos angolanos que, pelo ovalado do corpo, poderia ser sobrinho do falecido Savimbi, pediu Bifinhos de Cebolada. O outro, que poderia ser primo da Isabelinha dos Santos, nóvel empreendedora de sucesso, optou por Moelas com batata frita e arroz. Ambos beberam sumos adocicados de lata.
Os jovens africanos falaram, maioritariamente, de miúdas e de pequenos negócios. Pareciam felizes e eu lembrei-me de Eduardo Mondlane e Amílcar Cabral, que morreram assassinados. Recordei-me de Samora Machel... Como as coisas mudaram! O clã dos Santos, de Angola, é dono de um império. Já não andam pela guerra, nem precisam de contar os Quanzas, para comprar posições maioritárias em empresas portuguesas de referência. Só vestem roupas de marca e os seus antigos camuflados só servirão para alacres mascaradas de Carnaval.
É a vingança do chinês..., o colonialismo (económico) ao contrário, a evolução das gerações. Hoje, é notícia que um grupo angolano terá comprado uma participação importante da empresa do "Diário de Notícias". Mira Amaral, flectido ligeiramente, deve com frequência encher de perdigotos, ao beijá-la, a mão delicada e elegante de Isabel dos Santos. Os nossos jovens desempregados devem andar à procura de camuflados, em segunda mão, para voltar a África. Mas não é pela reconquista... Agostinho Neto, na tumba, deve rir-se às gargalhadas.
As voltas que o mundo dá.
ResponderEliminarA Isabelinha dos Santos quando vê o Mira Amaral aproximar-se ou abre o guarda-chuva ou põe um capacete de mota com viseira.
ResponderEliminar:)
EliminarSe não o faz, devia, por precaução..:-))
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ResponderEliminarInicialmente e apesar de tudo, a ocupação portuguesa de África só começou a intensificar-se a partir de finais do séc. XIX e, sobretudo, no séc. XX. O que me parece mais triste é o domínio desta cleptocracia corrupta que esbanja dinheiro a rodos e vai deixando morrer concidadãos à fome...
ResponderEliminarA História demonstra que sempre assim foi em todas as civilizações
EliminarÉ triste mas não surpreende :(
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ResponderEliminarApaguei o que disse porque receio não me ter feito entender. São de facto tempos complicados, mais para uns do que para outros.
ResponderEliminarO poder não está na raça, mas no valor atribuido ao dinheiro
ResponderEliminarA lei de Darwin aplicada à economia