É um soneto áspero, rouco de palavras tensas e duras, este, de Jorge de Lima (1893-1953), poeta brasileiro irregular e excessivo, na qualidade desigual da sua obra. O poema, na altura inédito, foi publicado na revista Árvore (vol. II - primeiro fascículo). Se tivesse que lhe juntar uma imagem, optaria decerto pelos pés, quase animalescos, de Cristo, da Crucificação de Grünewald, ou por alguma das cruéis e agressivas telas de Francis Bacon.
São versos que retratam, de forma dramática, a ansiedade tensa da criação, num quase misticismo trágico de libertação humana, mesmo que imperfeita. O poema é, para mim, um dos grandes sonetos da língua portuguesa.
Divina Voz, divino Sopro santo,
respiro-me em teu Voo, veloz Amor.
E sinto-me pequeno de poesia.
Vezes uns uivos, longe de ser canto
vestem-me os pêlos como Manto novo,
cordas revoando. Louvo-te Senhor.
Tenho em roda ao pescoço uma coleira
de cão, de pobre cão entre o meu povo.
Nem sei dizer se esse mudado Verbo,
nem sei dizer se essa gaguêz furiosa,
essa rosa de vento que é meu berro
se tornou na asfixia de Teu perro
- canto com que cantar-te, canto-chão,
nessa Tua divina ventania.
Não conhecia, mas gostei. A intensidade fez-me lembrar o "Cântico Negro" do José Régio, de que gosto muito.
ResponderEliminarSem dúvida que lhe é próximo, pelo menos de tom, embora, na sua contensão, ganhe mais força.
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