Numa pequena ilha, Tenos ou Andros, não me lembro,
perdido no tempo, junto a um limoeiro já sem frutos,
um velho aedo, olhos parados, cantava ainda
histórias de deuses, suas quezílias, feitos de heróis.
Se detinha contando de Éris uma velha lenda,
e tudo confundia ao recordar os factos ocorridos.
Parava um pouco, às vezes, para tornar à lengalenga,
a mesma, nomes diversos, misturando reis, heróis,
tantas coisas seus olhos cansados tinham visto já.
Na colina suave, o velho aedo, junto ao limoeiro,
recortava-se bizarramente contra o céu azul.
Do sul, de África, vinha um vento suave, adormecente,
e o sol caía, indiferente, para os lados da Pérsia.
Sem ninguém a ouvi-lo, desanimado, o velho
pensava nos que viriam depois contar o mesmo.
António de Almeida Mattos, in
Água Clara - Poetas em Vila Viçosa (Lisboa, 1987).
Belo poema.
ResponderEliminarO meu Amigo ficará contente por saber que gostou..:-)
EliminarTb subscrevo o comentário de Miss Tolstoi.
ResponderEliminarUma maravilha, este poema.
ResponderEliminarEm nome do Autor, agradeço a MR e Margarida.
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