Todo o género literário que nasce do uso particular de um discurso, como o romance que sabe utilizar o poder imediato da palavra, para nos comunicar uma ou diversas vidas imaginárias, de que ele institui as personagens, fixa o tempo e o lugar, enuncia os incidentes, que encadeia através de uma teia de casualidades mais ou menos suficientes.
Enquanto que o poema põe em jogo directamente o nosso organismo e tem por limite o canto, que é um exercício de ligação exacto e seguido entre o ouvir, a forma da voz e a expressão articulada, - o romance pretende excitar e manter em nós esta expectativa geral e irregular que é a nossa atenção aos acontecimentos reais: a arte do contador imita a sua bizarra dedução, ou as sequências normais.
E enquanto o mundo do poema é essencialmente fechado e completo em si mesmo, sendo um sistema puro de ornamentos e de tipos de linguagem, o universo do romance, mesmo do fantástico, religa-se ao mundo real, como o trompe-l'oeil se relaciona com as coisas tangíveis por entre as quais um espectador vai e vem.
Paul Valéry, in Variété I (pg. 152).
Paul Valéry, in Variété I (pg. 152).
Comprei "O alfabeto" de Paul Valéry e "Do inconveniente de ter nascido" Do E.M.Cioran, no Wook. Não tinha nada de nenhum destes autores. Estou com muita vontade de os ler :)
ResponderEliminarBoa noite!
O livro de Valéry não o conheço, o do Cioran, sim. E prepare-se para contrapor algumas ideias, às dele, que normalmente são pessimistas ou provocatórias..:-)
EliminarBom dia!